Tromboembolismo venoso: a patologia esquecida

Vilma Grilo

A 13 de outubro celebra-se o Dia Mundial da Trombose, data escolhida pela Sociedade Internacional de Trombose e Hemostase (ISTH) para informar e alertar a população relativamente à importância do Tromboembolismo Venoso. Apesar de constituir a 3ª causa de morte cardiovascular no mundo, apenas ultrapassado pelo Acidente Vascular Cerebral e o Enfarte Agudo do Miocárdio, sendo responsável por mais mortes na Europa que o cancro da mama, infeção VIH-SIDA ou acidentes de viação, o desconhecimento desta entidade é, ainda, generalizado.

O Tromboembolismo Venoso (TEV) caracteriza-se pela formação de um coágulo, maioritariamente ao nível das veias dos membros inferiores, designando-se nesta circunstância Trombose Venosa Profunda (TVP). Esta apresenta-se com dor, inchaço (edema) e alterações da cor (rubor) da perna, podendo atingir a totalidade do membro inferior. Por vezes, os coágulos formados nas pernas libertam-se e atravessam a circulação, chegando aos vasos pulmonares – causando a Embolia Pulmonar (EP). A apresentação da Embolia Pulmonar é variada, incluindo a sensação de falta de ar, dor torácica, desmaio, palpitações, tosse com sangue, e podem estar presentes os sintomas da TVP. Embora menos frequentes, também se podem formar coágulos noutros sistemas venosos, como nos membros superiores ou a nível abdominal.

O Tromboembolismo Venoso é uma entidade complexa e de origem multifatorial, podendo afetar qualquer pessoa, independentemente da sua idade, género, etnicidade ou estado de saúde. Os fatores de risco podem ser permanentes ou transitórios, e estar relacionados com o indivíduo ou fatores externos. São exemplos de situações associadas ao desenvolvimento de TEV as neoplasias (particularmente se em tratamento ou estádios avançados), trombofilias (doenças herdadas ou adquiridas que aumentam o risco de trombose), a gravidez e o pós-parto, a medicação hormonal (pílula ou terapêutica de substituição para a menopausa), idade avançada, obesidade, sedentarismo, tabagismo, imobilização prolongada, fraturas ou cirurgias. Num mesmo indivíduo podem coexistir múltiplos fatores de risco, aumentando a probabilidade de se desenvolver uma trombose.

A estadia em internamento hospitalar, por doença aguda ou procedimento cirúrgico, é um importante fator de risco modificável para TEV. Assim, existem estratégias para minimizar o desenvolvimento de TEV no hospital, como a utilização de medicamentos (anticoagulantes) ou dispositivos (meias de compressão pneumática intermitente) com o intuito preventivo (tromboprofilaxia), e a mobilização precoce.

O tratamento tem como principais objetivos impedir que o coágulo aumente, e prevenir a recorrência da trombose. Para isso são utilizados medicamentos anticoagulantes, em comprimidos ou injeções, consoante a situação clínica. Na embolia pulmonar grave pode ser necessário aspirar ou dissolver o coágulo para melhorar a circulação. O tempo de tratamento e a escolha do anticoagulante deve ser individualizada, e deve considerar o risco de hemorragia.

Dada a complexidade do TEV, existem cada vez mais médicos com interesse e diferenciação nesta área, para uma melhor abordagem na fase aguda e tratamento a longo prazo. De facto, o TEV pode apresentar complicações crónicas que devem ser avaliadas, como o síndrome pós-trombótico (sequela da TVP, em que se desenvolvem alterações da pele, dor e edema persistentes pela má circulação venosa) ou a hipertensão pulmonar (sequela da EP, em que persiste obstrução dos vasos pulmonares que leva ao desenvolvimento de alterações cardíacas).

O diagnóstico de um evento trombótico tem, frequentemente, um grande impacto no doente e na sua qualidade de vida. Assim, é imperativo agir através da prevenção, minimizando os fatores de risco modificáveis. Medidas simples como combater o sedentarismo e evitar o tabagismo são passos nesse sentido.  O slogan da campanha do Dia Mundial da Trombose, “Move Against Thrombosis” (“Mova-se contra a trombose”) salienta a necessidade de sermos proactivos e nos mexermos, (literalmente!), a bem da nossa saúde.

 

Vilma Grilo – Núcleo de Estudos de Doença Vascular Pulmonar da SPMI

(14/10/2024)