SPMI e APAH juntaram-se para workshop sobre o Serviço de Urgência

Em mais um exemplo da parceria que a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) tem vindo a desenvolver com a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), decorreu no dia 17 de abril um workshop promovido pelas duas entidades subordinado ao tema “Estratégias para diminuir o recurso inapropriado dos doentes ao Serviço de Urgência”.

Perante uma plateia de profissionais de diversas áreas, desde a gestão, passando pela auditoria e medicina, Luís Campos começou por reiterar a pertinência da ligação entre a SPMI e a APAH, ainda que alguns a considerem “contranatura”.

“É uma relação que se baseia numa vontade das duas entidades em contribuírem para a melhoria dos cuidados que prestamos”, disse o presidente da SPMI, lembrando que a APAH tem trabalhado temas em que a Medicina Interna está no “olho do furacão”, como é o caso das urgências, que considerou serem “o espelho das fragilidades do sistema e ao mesmo tempo a solução para o problema das pessoas”, adiantando ainda que o seu problema é sistémico e por isso carece de mais do que uma solução única:

“A forma como temos abordado esta questão não é a correta e temos um problema grave entre mãos: somos o país europeu que mais frequenta as urgências em cada ano. Sete em cada dez portugueses recorre à urgência hospitalar em cada ano e metade deles podia ter os seus problemas resolvidos nos cuidados primários, por exemplo”, afirmou Luís Campos, que identificou várias causas para este panorama.

“Há alguns mitos sobre isto: pensar que existe um sistema de vasos comunicantes entre cuidados primários e hospitais é falso, assim como é falso que seja pela falta de médicos de família, pois estes têm aumentado e o problema mantém-se. O problema é possivelmente a conjugação de várias razões, a que se junta o amontoar de doentes no Serviço de Urgência (SU) porque não têm vaga nos serviços para que deveriam ser direcionados. O modelo hospitalar fragmentado que temos é cada vez mais inadequado para internar os doentes que temos, cada vez mais idosos, com multimorbilidades. Isto agrava-se ainda mais com a acumulação de casos sociais que enchem 25% das camas da Medicina Interna”, recordou o internista, que lembrou que os próprios hospitais têm parte da culpa e poderiam contribuir para a solução “se implementassem programas de hospitalização domiciliária, unidades de diagnóstico rápido que diminuíssem tempos de espera, promovessem a utilização dos hospitais de dia e uma melhor gestão de camas”.

Para terminar, o presidente da SPMI salientou ainda os problemas do próprio sistema de saúde, que leva a que os doentes crónicos sejam tratados de forma fragmentada e episódica.

“Temos de mudar de paradigma na resposta a estes doentes e passarmos a ser proativos”, concluiu.

APAH aposta na ligação com Medicina Interna

Alexandre Lourenço considerou que ações como esta ajudam os hospitais a desenvolver boas práticas em determinadas áreas, como é o caso do SU, e destacou a pertinência da ligação com a Medicina Interna para o efeito.

“Sabemos que a gestão de fluxos a partir do SU é particularmente relevante e desde a primeira hora fazia sentido a associação com a Medicina Interna, numa ligação que chegará a outras matérias muito brevemente, particularmente no que diz respeito à interação entre os cuidados de saúde e os cuidados sociais”, revelou o presidente da APAH, que realçou ainda a importância de apoiar as organizações a desenvolver novas metodologias tendo por base as melhores experiências internacionais.

Nesse sentido, esteve presente na sessão uma especialista britânica do Senior Manager da EY Healthcare Advisory, que deu a conhecer a experiência do Reino Unido em termos de organização das urgências, a que se seguiu um conjunto de oficinas paralelas que permitiu aos participantes desenvolver estratégias para otimizar o SU.

(18/04/2018)