Serviço de Medicina do HGO: trabalho multidisciplinar com doentes mais dependentes permite reduzir internamento
Atualmente constituído por uma equipa de 12 internistas – sete assistentes graduados e cinco assistentes hospitalares – e 16 internos da especialidade, o Serviço de Medicina do Garcia de Orta existe desde a abertura desta unidade hospitalar, tendo a especialidade grande peso em todo o seu trabalho assistencial e, até mesmo, na sua gestão.
Dirigido por Francisca Delerue desde março de 2012, o Serviço (que é tema de reportagem na última LIVE Medicina Interna) está dividido em quatro setores – Medicina I, Medicina II, Medicina III e Medicina IV –, com equipas próprias “muito uniformes” e compostas por “excelentes profissionais, com muito boa formação”.
“O hospital tem uma área de influência de 350 mil habitantes, residentes em Almada e no Seixal e possui 545 camas, 85 das quais no nosso Serviço, mais 10 de hospitalização domiciliária”, conta a diretora, acrescentando que este número não é fixo, uma vez que em períodos de mais afluência acabam por ter camas noutros serviços.
Após “passar a visita” na Medicina IV, que a Just News pôde acompanhar, e muito orgulhosa da sua equipa e do “bom ambiente” que ali se vive, Francisca Delerue explicou não existirem patologias específicas entre os diferentes setores.
A diferença mais notória está na Medicina IV, que foi criada mais tarde, com a intenção de ser uma unidade com um internamento de curta duração, o que, segundo menciona, nem sempre é possível.
Internamento: perceber as necessidades do doente
“Não conseguimos ter só doentes de curta duração e a demora média acaba por não ser tão baixa como gostaríamos. Começámos com seis dias de demora média e agora estamos nos oito dias. Nos outros setores a demora média é de 10 dias. Contudo, sem protelamento de alta, é de cerca de 8,5”, observa. Francisca Delerue salienta que a carga social e o facto de os doentes não saírem exatamente no dia em que lhes é dada alta tem uma carga muito pesada.
Nos últimos dois anos, tem sido feito um trabalho multidisciplinar “muito importante” com os doentes mais dependentes, que envolve médicos, enfermeiros e assistentes sociais. O objetivo é espelhar previamente aquela que será a evolução do doente em termos de tempo de internamento, de forma a conversar com a família e perceber as suas necessidades.
“Com este trabalho, conseguimos reduzir a demora média de 12 para 10 dias, o que foi muito importante. Pretendemos continuar a melhorar estes valores”, afirma Francisca Delerue. Além disso, a Medicina I tem uma Unidade de Cuidados Intermédios, a II tem seis camas de Dermatologia e a III 10 camas de Infeciologia.
Unidade de Cuidados Intermédios com papel fundamental em termos assistenciais e de formação
Apesar de ter apenas quatro camas, a Unidade de Cuidados Intermédios tem sido, segundo Francisca Delerue, “fundamental” para o hospital.
“É uma falha não haver mais camas de cuidados intermédios. Estas dão resposta tanto aos doentes cuja situação se agrava na enfermaria como aos da Unidade de Cuidados Intensivos”, explica, acrescentando que, de qualquer forma, o espaço tem funcionado bem. A demora média é de seis dias.
Trata-se de doentes que, normalmente, estão descompensados, sobretudo na parte respiratória, e que necessitam de ventilação não invasiva. A invasiva é feita nos cuidados intensivos. Esta unidade tem tido, ainda, grande importância no que respeita à formação, tanto dos internos de Medicina Interna como dos de outras especialidades, nomeadamente, Cardiologia, Nefrologia e Pneumologia.
Equipa unida pelo desenvolvimento assistencial e bom ambiente do Serviço
Diretora do Serviço há quatro anos, Francisca Delerue faz um balanço positivo da experiência. Tem vindo gradualmente a cumprir os objetivos a que se propôs e admite que gosta, particularmente, da gestão de recursos humanos e da área da formação.
“Damo-nos muito bem aqui no Serviço. O ambiente é muito bom, entre especialistas, internos e enfermeiros. Tenho equipas separadas em cada setor, mas jogamos com os recursos humanos consoante as necessidades. Há uma grande entreajuda”, conta.
Segundo afirma, gosta sobretudo de ser médica. Contudo, com o passar do tempo, percebeu que tem, também, apetência para “gerir pessoas”, a tarefa “mais difícil” no que respeita às suas funçöes enquanto diretora.
“Isto é extremamente importante, os profissionais têm de estar bem e satisfeitos. Se temos um mau ambiente e as pessoas contra a Direção, podemos ter muito boas ideias, mas será muito complicado colocá-las em prática”, observa.
“Um Serviço sem internos morre”
Francisca Delerue era diretora do Serviço de Urgência, reconhecendo que quando assumiu a responsabilidade do Serviço de Medicina entrou um pouco “apreensiva”, sobretudo no que respeita à formação.
“Não sabia como as coisas iam correr em relação aos internos, mas é uma área de que estou a gostar bastante. O Serviço é bastante dinâmico em termos de atividade cientifica, muito graças aos médicos em formação, e temos uma série de reuniöes todos os dias”, observa. Além dos 16 internos da especialidade nos seus diferentes anos de formação, recebe também alunos do 4.º e 6.º anos, internos do ano comum e médicos jovens em estágio.
“É muito importante termos internos. Têm muitas ideias novas e interessantes e puxam pelos médicos seniores. Um Serviço sem internos morre.”
Reforçar a ligação com a MGF
Relativamente ao futuro, e entre outros aspetos, Francisca Delerue adianta que “o Serviço pretende continuar a apostar e a desenvolver o projeto da Hospitalização Domiciliária que, no seu entender, “tem, sem dúvida, pernas para andar”.
Continuar a desenvolver uma ligação com a Medicina Geral e Familiar (MGF) é outro dos projetos em que Francisca Delerue pretende continuar a apostar. “Atualmente, é enviado por via eletrónica, ao respetivo médico de família, a informação de que o doente está internado, podendo aquele acompanhar, pelo PDS, o internamento dos seus doentes.”
Também são organizados, a cada dois anos, os Encontros de Medicina Interna, contando com a participação ativa dos colegas de MGF, e realizaram-se recentemente, pela primeira vez, as Jornadas do Tromboembolismo Venoso da Zona Sul. Ambas as iniciativas destinadas aos cuidados de saúde primários.
“É muito bom podermos conhecer a realidade dos colegas e vice-versa. Acabamos por ter depois um relacionamento mais próximo quando há necessidade”, conclui.
(3/11/2016)