Painel: “Medicina Interna e a Formação Pré-Graduada: Que Papel?”
Médicos debatem novas formas de aprender medicina
“A Medicina Interna deve participar em todas as fases do curso de Medicina, porque tem uma visão global e uma ação integradora imprescindíveis à boa medicina e ao ensino de qualidade: é do todo que se prossegue para a análise das partes e não o contrário”, assegurou Armando Carvalho, professor catedrático da FMUC e diretor do Serviço de Medicina Interna do CHUC.
E desenvolveu “a aprendizagem com base na observação global de doentes e na integração dos dados é essencial e os alunos devem aprender perante problemas representativos da realidade com que irão lidar no futuro”.
Armando Carvalho, terminou ainda com um conjunto de propostas para a melhoria do ensino de medicina, entre os quais destacou “a inclusão de investigação científica como atividade obrigatória do serviço, isto é, médicos envolvidos na carreira académica, com mais de 50% doutorados”, considerou ainda, importante que exista uma adaptação do número de alunos adequado ao espaço formativo e aos doentes internados ou em consulta, não causando constrangimentos à atividade hospitalar e universitária.
Ainda na mesma sessão, onde se debateram novas formas de aprender medicina, Miguel Castelo-Branco, especialista em Medicina Interna e professor catedrático, trouxe à luz o tema “simulação clínica e novas tecnologias no apoio ao ensino médico: papel da MI”, onde referiu “que a utilização da simulação, como um componente dum programa que recorre a todos os instrumentos adequados é hoje uma das facetas com grande potencialidade para o ensino da medicina. Existem muitas modalidades desde os doentes simulados ao uso de realidade virtual e de inteligência artificial.”
E explicou “a simulação clínica é uma forma de replicar cenários de saúde do mundo real em um ambiente seguro para fins de educação e experimentação.” Miguel Castelo-Branco, aproveitou ainda para referir a importância da inclusão dos médicos internistas no ensino pré-graduado.
“O papel das escolas médicas é formar médicos completos: conhecedores, tecnicamente bons e muito humanos” afirmou João Cerqueira, diretor do curso de Medicina da Escola de Medicina da Universidade do Minho, que lançou o tema “novos modelos de ensino médico- patient based learning, papel da MI”.
E acrescentou “este é um desígnio desafiante, já que à complexidade inerente à formação de pessoas se junta a dificuldade da formação em áreas que nem sempre são fáceis de compatibilizar. Acresce a natureza do exercício da própria medicina, uma difícil conjugação entre arte e ciência e, por isso, sujeita às rápidas mudanças verificadas na organização social e no conhecimento científico. Se estes continuamente mudam, também a prática médica, e necessariamente a formação dos médicos do futuro, tem de estar atenta e adaptar-se a essa mudança”, garantiu.
Apesar de, nos últimos 50 anos, a medicina ter sido alvo de uma reestruturação do modelo de ensino, que deixou de ser baseado no professor para ser alicerçado no estudante, o que para João Cerqueira, contribuiu para melhorias relevantes no campo da Medicina, ainda há um longo caminho a percorrer e, é aí que surge uma nova forma de aprender medicina, voltada para o paciente “nesta nova visão, de que a Escola de Medicina da Universidade do Minho é pioneira em Portugal e na Europa, a aprendizagem organiza-se à volta dos pacientes e das suas necessidades”, afirmou.
Em tom de despedida, João Cerqueira, revelou ainda que este é o modelo de ensino médico que a medicina do futuro precisa, mas que só terá sucesso se a medicina interna, e os médicos internistas, como pilares dos cuidados médicos hospitalares, o abraçarem de coração.
A sessão “Medicina Interna e a formação pré-graduada: que papel?”, foi presidida por Rui Vitorino, diretor do Serviço de Medicina Interna e professor catedrático.