Painel: “Endless resistance. Endless antibiotics?”
Endless resistance. Endless antibiotics?
“A resistência aos antimicrobianos é um tema transversal com um impacto muito significativo na saúde e na maneira como tratamos os nossos doentes”, garantiu Alexandre Carvalho, especialista em Medicina Interna, na sessão de quinta-feira pelas 15h15, onde apresentou a temática “demografia de uma catástrofe previsível”.
E acrescentou “entidades como a OMS e a OCDE já se aperceberam também do impacto económico e social que está implícito em termos doenças intratáveis quando, até recentemente, havia armas suficientes, isto é, os antibióticos para resolver as infeções bacterianas”.
Segundo Alexandre Carvalho “o problema vai muito além do uso de antimicrobianos em pessoas – há um uso intensivo em pecuária, por exemplo, com consequências de contaminação ambiental desastrosas. As nossas armas, mais que os antibióticos per si, são a racionalidade e o conhecimento e é com elas que podemos contar para reverter esta maré: uso adequado de antibióticos, práticas corretas em controlo de infeção e vigilância a nível global.”
Paula Baptista, coordenadora do Programa de Prevenção e Controlo de Infeção e Resistência aos Antimicrobianos da Administração Regional de Saúde do Norte e do Centro Hospitalar do Médio Ave, trouxe para cima da mesa o tema antibioterapia responsável, em que afirmou “se a capacidade das bactérias de elaborarem mecanismos de defesa que lhes permitem, de mil e uma maneiras tornear, o efeito dos antibióticos se tem revelado infinita, a nossa capacidade de inventar novas fórmulas ou reinventar as anteriores é cada vez menor”.
Com base na sua experiência, a coordenadora alertou para o facto de, diariamente, em meio hospitalar lidarem com infeções graves por microrganismos multirresistentes e panresistentes. E referiu “a Medicina Interna tem de assumir o papel de guardião do antibiótico.” Contudo, para que isso aconteça tem de existir “melhor conhecimento da flora hospitalar, técnicas de diagnóstico mais rápidas, diagnósticos mais corretos e ponderação do risco em relação ao benefício na abordagem do doente a quem vamos propor tratamento com antibiótico. Estas questões devem ser parte da nossa rotina habitual em tomada de decisão.”
Paula Baptista, demonstrou ainda preocupação em torno da poluição, provocada pelos antibióticos, originando no meio ambiente bactérias mais resistentes. Terminou a sua apresentação com uma questão que dá que pensar: “Que mundo vou deixar aos meus filhos? Poluição e zero proteção perante as bactérias?”.
Ainda na mesma sessão, Joana Alves, assistente hospitalar de Infeciologia, lembrou para a importância da prescrição do antibiótico apropriado a cada doente, revelando-se um elemento fundamental no combate ao atual problema de saúde pública que vivemos – o da resistência aos antibióticos.
Em tom de jeito final, a infeciologista destacou ainda a importância do Programa Stewardship em Antimicrobianos, em que afirmou que o objetivo é “o de otimizar o bom uso do antibiótico”, mas que para esse efeito “precisa do apoio de todos os profissionais”, relembrando que todos podem contribuir no combate à resistência.
A sessão “Endless resistance. Endless antibiotics?”, foi presidida por Fernando Rosas Vieira, membro da Direção do Colégio da Especialidade de Medicina Interna, e moderada por Alexandre Carvalho, especialista em Medicina Interna.