“Oxalá não precise, mas se acontecer, quero ficar internado convosco!“

Olga Gonçalves

Esta é uma expressão comum a muitos familiares e cuidadores, aquando da alta de um doente internado em casa.

É, simultaneamente, o reconhecimento cordial da actuação levada a cabo e um desafio à continuidade do desempenho, traduzindo fielmente que foram captados os objectivos e o alcance das Equipas de Hospitalização Domiciliária (HD).

Todos os que diariamente tratamos e cuidamos doentes em casa sabemos que uma eventual estranheza, quando essa proposta é feita, se desvanece com a experiência de ver conciliados o conforto do lar com a qualidade e a segurança do tratamento.

No local habitual de residência, onde se encontram os referenciais que balizam a orientação de tantos doentes e onde se vivenciam os afectos e as preocupações, é onde melhor se planificam e executam esclarecimentos e ensinos e se exemplificam os melhores hábitos de vida. Aí se promove, verdadeiramente, a literacia em saúde.

A articulação eficiente das Equipas multidisciplinares favorece ainda a literacia social e cívica, tornando-se bem claro o indispensável interesse da presença de um(a) Assistente Social que contribua para o bem-estar de doentes e cuidadores.

O efeito cumulativo desta acção fica patente na diminuição dos recursos ao Serviço de Urgência e da taxa de reinternamento, tal como demonstram os dados das Equipas HD. O cerne desta diferença é também proporcionar ao doente e ao(s) seu(s) cuidador(es) o tempo necessário para compreender e actuar a gestão do receituário e o manuseio de técnicas básicas de monitorização da doença ( pesquisa de glicemia, registo de temperatura e outros sinais vitais, vigilância do débito urinário , cuidados com ostomias …). Muitas dúvidas, nunca antes comunicadas por constrangimento ou menor disponibilidade do interlocutor, são respondidas, afastando receios e pacificando quem cuida.

E, de resto, este suporte ao cuidador é um propósito major das Equipas HD. Reconhecendo a ambivalência e até exaustão que o papel de cuidador pode provocar, ao se assumirem funções inesperadas, exigentes e tantas vezes rotineiras, é necessário investir em pequenas âncoras de acalmia, repouso e reconforto. Olhando também pelo cuidador estaremos prevenindo a doença e trabalhando também por uma melhor saúde global.

Razões muito importantes não faltam para que se mantenha e amplie o trabalho das Equipas HD! Assim se cumpram, positivamente, as solicitações feitas à Tutela, mormente no que concerne a recursos humanos e logísticos.

Queremos que se continue a dizer “Oxalá não precise, mas se acontecer, quero ficar internado convosco! “. Estaremos a cumprir o desígnio da Hospitalização Domiciliária.

Olga Gonçalves – Coordenadora-Adjunta do NEHospDom da SPMI

Este artigo foi publicado no Diário de Notícias

(23/05/2023)