O fim da campanha Os Idosos são Valiosos
Cumpre-se, no dia 26 deste mês, um ano da campanha Os Idosos São Valiosos.
Como foi programado há um ano, a campanha começou no dia Mundial dos Avós, 26 de Julho de 2021 e termina no Dia Mundial dos Avós em 26 de Julho de2022.
Teve a colaboração de dezenas de portugueses da ciência, das artes, da cultura, do humanismo.
Também Sua Santidade o Papa colaborou, oferecendo, (como todos os que nos honraram participando na campanha), frases que defendem o conceito de que os velhos são valiosos.
Frases que, apoiadas por vídeos, passaram na RTP, nas redes sociais, foram lidas na Radio Renascença.
Esta campanha teve a colaboração atenta e dedicada da empresa “Miligrama-Comunicação em Saúde” e o empenho criativo da empresa “Conceito Visionário”.
Tem ainda este projeto o objetivo de publicar um livro com todas os textos que nos ofereceram, ilustrado com imagens dos doze vídeos que apoiaram a locução de Ana Zanatti, ao som da música “Castelos no Ar”, de Raúl Ferrão e Raúl Portela, do filme “A canção de Lisboa”.
Como médico que sou, e Professor que fui de Geriatria, recebi da Organização Mundial de Saúde a incumbência de, além do ensino clínico da Geriatria, ensinar atitudes positivas em relação ao envelhecimento, de denunciar os estereótipos negativos que a sociedade criou contra os velhos, de alertar para os diferentes aspetos da violência que sofrem os idosos.
Como recentemente disse o Papa “…os idosos são descartados. Abandonados em asilos, sem que os seus filhos os vão visitar ou se vão, vão apenas algumas vezes por ano. O idoso é colocado bem no canto da existência. E isso acontece hoje, acontece nas famílias, acontece sempre. Quando ouvimos dizer que os idosos são despojados da própria autonomia, da sua segurança, até das suas casas, compreendemos que a ambivalência da sociedade atual não é um problema de emergências ocasionais, mas um traço da cultura do descarte que envenena o mundo em que vivemos”.
Uma doente idosa deixou-me ler alguns dos poemas que escreveu e deles transcrevo este que traduz a sua solidão: “Pôs-se a noite escura/ e lá fora já nada me pertence/Agora estou só comigo/Só tenho o que é meu/ E tenho medo”.
A campanha procurou alertar para a solidão, o desamparo, as violências, as injustiças, a ostensiva ignorância dos velhos. Combater o conceito de que os velhos são inúteis, de que são “uma peste” que prejudica a economia do país e do Mundo.
Lembrar que todos seremos ou somos idosos.
Como escreveu Pessoa pelo seu heterónimo Álvaro de Campos, na Passagem das Horas: “Mas o facto é que sempre é outono no outono/
E o inverno vem depois fatalmente/ E há só um caminho para a vida, que é a vida”.
Como canta Mafalda Veiga, a propósito de um velho sentado num banco do jardim…” E a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém/ Sabes eu acho que todos fogem de ti prá não ver/ A imagem da solidão que irão viver/ Quando forem como tu/ um velho sentado num jardim.
Os Idosos são Valiosos procurou acordar sentimentos esquecidos nos nossos dias. Os idosos merecem o nosso respeito e o nosso carinho, têm direito, até ao fim da vida, à dignidade de seres humanos, são uma fonte de experiência e sabedoria.
Afinal devemos-lhes a maior de todas as dádivas: a existência.
João Gorjão Clara
(26/07/2022)