Internistas de vários países do mundo debatem formas de cooperação
A manhã do terceiro dia foi marcada por duas sessões, em que foi feita uma avaliação da Medicina Interna, na sua atividade assistencial, de investigação e de ensino em vários países do mundo.
O objetivo foi perceber quais os pontos fortes e fracos em cada um dos países, assim como as semelhanças e desigualdades nas diferentes partes do mundo, de maneira a serem desenvolvidas formas de cooperação.
“Independentemente do país, um sistema de saúde estruturado, em que a MI é a especialidade basilar, é essencial para podermos prestar cuidados com equidade e qualidade à população. A covid veio mostrar isso mesmo: os países que não têm um Serviço Nacional de Saúde estruturado não resistem a uma pandemia”, afirmou João Araújo Correia, presidente da SPMI, no final da sessão “O Futuro da Medicina Interna nos nossos países – Análise SWOT”, na qual participou, fazendo em conjunto com Vasco Barreto, diretor do Serviço de Medicina Interna do Hospital Pedro Hispano, a exposição das “Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças” da MI em Portugal.
Depois de todos os participantes terem feito uma exposição da realidade dos seus países – Espanha, por Jesus Diez Manglano, Brasil, por Maria do Patrocínio Nunes, e México, por Alfredo Cabrera Rayo, o presidente da SPMI observa que, apesar de haver problemas, desafios e benefícios semelhantes entre estes quatro países, a realidade é que existem muitas diferenças entre todos:
“Não somos iguais, mas devemos assumir o modelo da MI de Espanha e de Portugal como um exemplo. Temos de divulgar esta forma de fazer Medicina Interna a todo o mundo, porque nos sistemas de saúde estruturados a MI é a sua base confiável. Os nossos governantes e gestores já o entenderam, reforçando muito o número de especialistas de MI nos quadros hospitalares, mas temos de o afirmar a nível internacional, até porque quanto mais escassos forem os recursos de um país, mais é importante ter a MI para gerir os recursos disponíveis.”
João Araújo Correia lamentou, o facto de Portugal não ter, como em Espanha, acesso aos dados do Ministério da Saúde, de forma a saber rigorosamente a produção realizada nos serviços de MI. “Isto é uma fraqueza muito grande, que impede a afirmação da importância da MI no tratamento das doenças mais prevalentes, possibilitando ao mesmo tempo a realização de estudos de investigação que poderiam enobrecer o exercício da atividade como Internista.”
Debate sobre as oportunidades de cooperação dos países da lusofonia
A sessão anterior, “A Medicina Interna no meu país: oportunidades e barreiras à cooperação”, foi realizada por especialistas de países de língua portuguesa – Portugal, Angola, Cabo Verde, Moçambique e Brasil -, e as diferenças entre cada um deles ficaram bem patentes.
Foram debatidas questões relacionadas com o ensino da especialidade e a investigação, chegando-se à conclusão de que a situação é muito semelhante nos países africanos e no Brasil, nos quais não há verdadeiros sistemas nacionais de saúde e em que a maioria dos especialistas acaba por exercer a sua atividade no setor privado.
O facto de adquirirem uma base generalista e depois poderem ingressar, com uma formação adicional, numa subespecialidade de órgão, leva a que a maioria opte pelo seu exercício deixando a MI.
A sessão foi moderada por Luís Campos, diretor do Serviço de Medicina do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental, que, depois de assistir às apresentações dos colegas, tentou perceber qual a melhor forma de cooperação entre países, num futuro próximo, de modo a melhorar a qualidade da formação dos futuros internistas.
“A MI faz todo o sentido nestes países, pretendemos desenvolver e implementar mais esta ligação, que pode fazer-se por exemplo com a partilha de cursos e-learning ou com a promoção de estágios em serviços idóneos em Portugal”, salientou.
Armando Carvalho, que presidiu à sessão, na qualidade de representante do bastonário da Ordem dos Médicos (OM), Miguel Guimarães, referiu: “Para a OM é extraordinariamente importante que se realizem sessões como esta em congressos, para que as pessoas de países de língua portuguesa falem da sua realidade e da possibilidade de cooperação. É bom para a OM ter a possibilidade de promover e apoiar sessões deste tipo.”
As apresentações desta sessão foram feitas por Maria Helena Agostinho, Angola, Sousa Santos, Cabo Verde, San Patel, Moçambique, e Guilherme Barcellos, Brasil. Ambos os painéis decorreram numa versão híbrida, com participações presenciais e online.