A MI na pandemia covid-19
João Araújo Correia, presidente da SPMI, abordou o tema “A MI na resposta estruturada do SNS, resultados do inquérito SPMI nos hospitais covid do país”, onde revelou os dados do inquérito levado a cabo por esta sociedade científica, em que foram inquiridos 85 diretores de serviço de Medicina Interna dos hospitais covid para avaliar o envolvimento dos internistas no tratamento de doentes covid-19 e a atividade exercida com doentes não infetados.
Para o presidente da SPMI, “estes resultados demonstram as vantagens inegáveis de ter um SNS forte, com capacidade de resposta a um acontecimento inesperado, com a magnitude desta pandemia”.
Segundo referiu, foram 575 especialistas e internos de Formação Específica de Medicina Interna, os que integraram as enfermarias covid e as Unidades de Cuidados Intensivos, em todos os hospitais do país. Nos hospitais a lotação de camas de enfermaria covid disponíveis era de 1.963, verificando-se uma taxa de ocupação de 48,8%. Havia também 620 camas de Intensivos para doentes covid, sendo a taxa de ocupação de 31,6%. Em 65% das Enfermarias covid trabalharam em conjunto especialistas de Medicina Interna e muitos outras especialidades médicas, enquanto em 35% a gestão foi integralmente assegurada por internistas. Os Serviços de Medicina Interna asseguravam o tratamento em simultâneo a 3.157 doentes sem infeção covid-19, isto é, 90% dos doentes habitualmente tratados.
“Estamos convencidos de que o facto de Portugal ter a Medicina Interna como a especialidade base do Sistema de Saúde no Hospital, ou seja, 14% do total dos especialistas hospitalares, contribuiu para termos uma resposta rápida, organizada e competente”, concluiu João Araújo Correia.
“A Medicina Interna é um dos pilares dos cuidados de saúde nos hospitais. A pandemia covid-19 obrigou a medidas de carácter higieno-social e à necessária reorganização dos Serviços de Medicina Interna, no sentido de tratar adequadamente os doentes infetados ou com suspeita de infeção, sem esquecer os doentes não covid”, afirmou Vítor Paixão Dias, diretor do Serviço de Medicina Interna do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho e atual presidente da Sociedade Portuguesa de Hipertensão.
Segundo o internista, desde o início da pandemia, houve uma grande atenção por parte dos profissionais de saúde em tomar as medidas de segurança necessárias. Revelando existir uma dupla preocupação: a de cuidar dos doentes covid-19 e a de não negligenciar os cuidados aos doentes que não foram infetados pela covid.
Para tal, foi necessária uma “conciliação com os gabinetes de crise dos hospitais, foi preciso assegurar alterações funcionais no Serviço de Urgência, nas enfermarias e no ambulatório, de forma a tratar bem os doentes infetados e não atrasar ou descurar de forma excessiva os cuidados assegurados em condições normais aos doentes não covid, particularmente daqueles com patologia crónica e/ou com multi-morbilidade”.
“Tudo isto sem desproteger os profissionais, não apenas do ponto de vista infecioso, mas também do ponto de vista do impacto sobre a sua própria saúde mental, um aspeto ainda não totalmente investigado e compreendido no atual contexto”, finalizou.
Ainda na mesma linha de pensamento, Joana Cunha, internista do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, relembrou que após a fase, covid-19, é importante refletir sobre as alterações que foram feitas, o trabalho que foi levado a cabo, e, à luz dos números e do conhecimento atual, repensar e preparar o futuro próximo.
Destacou ainda, o Inquérito Serológico Nacional COVID-19, levado a cabo pelo Instituto Nacional Ricardo Jorge, que revelou uma seroprevalência de anticorpos específicos contra SARS-CoV-2 na população portuguesa muito baixa, longe daquilo que seria necessário para alcançar imunidade de grupo. “Além disso, estudo recentes evidenciaram a natureza transitória da resposta dos anticorpos à infeção por SARS-COV-2.”
A internista alertou ainda para a importância da manutenção das recomendações de proteção individual e coletiva e para a suscetibilidade da população portuguesa a uma eventual segunda vaga, o que obriga a manter os Serviços de Urgência em alerta máximo e com capacidade maximizada de resposta.
A sessão “A MI na Pandemia covid-19” foi presidida por Francisco Parente, diretor clínico no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, e moderada por Anabela Oliveira, diretora do Serviço de Urgência do Centro Hospitalar de Lisboa Norte, que promoveram uma discussão dos temas.