Notícia | Infeções em Doentes Complexos
Como tratar infeções em doentes complexos?
“Durante os últimos anos, assistimos a um crescimento exponencial na utilização de terapias biológicas ou tratamentos direcionados na gestão de doentes oncohematológicos”, assegurou Isabel Ruiz, especialista em Medicina Interna e infecciologista, ao abordar a temática “Infeções associadas aos novos fármacos anti-neoplásicos”. Mas sublinhou que é difícil afirmar se estas estão relacionadas com um maior número de infeções, dado que há um elevado número de fatores que geram confusão, uma vez que os doentes oncohematológicos estão sujeitos a um número maior de infeções.
Embora seja impossível estabelecer medidas de prevenção universais, uma vez que cada medicamento atua por caminhos diferentes, existem algumas recomendações gerais antes do início de uma terapia biológica ou, de preferência, antes do início de qualquer quimioterapia. Inicialmente, a médica recomendou “a vacinação e a atualização do calendário de vacinação”. Em segundo lugar, “o rastreio a infeções latentes, como é o caso da tuberculose, vírus hepatotrópicos, entre outros.” Por fim, e durante o tratamento, Isabel Ruiz, sugeriu que se efetue sempre uma avaliação da profilaxia contra Pneumocystis jiroveci.
A especialista deixou o alerta “o risco-benefício apresentado pela profilaxia com cotrimoxazole deve ser avaliado, pois também previne outras infeções relacionadas com a imunidade celular como a Listeria, Legionella, Salmonella, Nocardia, Toxoplasma, Haemophilus, entre outros, em doentes com linfopenias sustentadas ou sempre que esteroides ou diferentes imunossupressores estejam associados a tratamentos biológicos.”
Ainda na mesma sessão, António Ramos, internista, lançou para a mesa redonda o tema “antibioterapia empírica à volta da multirresistência”, onde garantiu que as infeções causadas por bactérias multirresistentes estão associadas a uma elevada taxa de mortalidade dos doentes.
E acrescentou que “a prescrição precoce do antibiótico adequado é muito relevante para melhorar o prognóstico do doente”. O médico aproveitou para deixar algumas recomendações que devem ser transversais aos especialistas em Medicina Interna relembrando que devem estar bem conscientes das resistências aos antibióticos mais relevantes, tanto a nível nacional, como local. Alertou também para outros fatores a ter em consideração, como o ambiente em que o paciente adquiriu a infeção e para a importância do conhecimento dos antibióticos mais relevantes.
Em tom de despedida, António Ramos, concluiu “que é importante distinguir entre colonizações ou bacteriúrias assintomáticas, que não devem ser tratadas, exceto em mulheres grávidas, e infeções. A iniciativa atual de administrar tratamentos potentes, por vezes, com doses elevadas ou com infusão prolongada, não se deve prolongar por mais de 7 dias, salvo algumas exceções. É igualmente importante ajustar o antibiótico aos resultados microbiológicos, isto é, ao desescalonamento ou à mudança para um tratamento direcionado, e utilizar a via oral quando são utilizados medicamentos com biodisponibilidade adequada.”
“As infeções em doentes complexos”, decorreu na tarde de sexta-feira, tendo sido presidida por Júlio de Oliveira, internista no Centro Hospitalar do Porto, e moderada por Carlos Lumbreras Bermejo, secretário-geral da Sociedade Espanhola de Medicina Interna, onde também participou Manuel Lizasoain, infeciologista, com o tema “infeções emergentes no doente neutropénico”.