Notícia | Autoimunidade na Clínica
Autoimunidade na clínica
“A artrite reumatoide é a doença inflamatória crónica mais prevalente no idoso”, afirmou Jorge Fortuna, especialista em Medicina Interna, no CHUC e orador na sessão “Autoimunidade na clínica”, com o tema “Artrite reumatoide no idoso”, que se realizou durante a tarde de sexta-feira.
Jorge Fortuna, salientou ainda que o idoso deve ser observado do ponto de vista global, uma vez que “é neste grupo etário que predominam doenças crónicas como a insuficiência cardíaca ou a doença renal crónica, que implicam polimedicação e até podem contraindicar certas terapêuticas utilizadas, frequentemente, na artrite reumatoide”.
E acrescentou “que esta abordagem global deve ser feita pelo internista”.
Como forma de melhorar a qualidade de vida do idoso, o internista referiu ainda, que é necessário um controlo adequado das doenças crónicas de forma a diminuir a mortalidade, mas também a morbilidade.
Ainda na mesma sessão, Graziela Carvalheiras, internista no CHUP, lançou o tema “Lúpus na grávida”, em que aproveitou para relembrar que o lúpus eritematoso sistémico (LES) é frequente nas mulheres em idade fértil. E explicou que, a doença é, regra geral, associada a um elevado nível de insucesso. Não obstante, nos últimos anos, este paradigma tem-se vindo a alterar. Para tal, contribuiu um planeamento multidisciplinar eficaz, com participação ativa da doente, prevendo um período de inatividade da doença de pelo menos 6 meses prévios à conceção, bem como o recurso a medicamentos com risco baixo de teratogenicidade.
A internista deixou o alerta “a nefrite lúpica representa o maior risco para complicações materno-fetais, das quais se destacam o flare lúpico durante a gravidez e no puerpério, a pré-eclâmpsia, o abortamento espontâneo e a morte fetal, o atraso de crescimento intrauterino e o parto prematuro. O reconhecimento de um flare da doença durante a gravidez pode ser difícil porque os sinais e sintomas podem mimetizar os da gravidez normal.”
“Na ausência de LES ativo, as grávidas não precisam de tratamento específico. A hidroxicloroquina deve ser mantida. Na presença de anticorpos antifosfolípideos, o tratamento profilático com ácido acetilsalicílico, ou se coexiste a síndrome antifosfolipídeo, a hipocoagulação com heparina de baixo peso molecular está indicada. No tratamento do flare lúpico, os corticoides em doses reduzidas, a azatioprina e as imunoglobulinas podem ser utilizados com segurança. A ciclofosfamida deve ser protelada para o 3º trimestre, pelo risco elevado de abortamento e efeitos teratogénicos”, terminou Graziela Carvalheiras.
De acordo com Vera Bernardino, especialista em Medicina Interna, no Hospital Curry Cabral, “as doenças autoimunes, enquanto patologia sistémica, são, por excelência, uma
doença paradigmática do internista. Deste modo, é importante reconhecer a sua semiologia e em que situações se devem solicitar exames complementares de diagnóstico.”
Em tom de despedida, a internista realçou ainda, que “os anticorpos antinucleares devem ser solicitados em situações clínicas sugestivas de patologia autoimune. Podem ter um papel fundamental no diagnóstico precoce destas doenças, mas é importante reconhecer e contextualizar a elevada prevalência de falsos positivos.”
A sessão “Autoimunidade na clínica” foi presidida por António Capela, internista no UCIP e contou com a moderação de Nuno Riso, internista na Clínica Longeva, e Faustino Ferreira, diretor clínico do Hospital dos SAMS.