Notícia | A MI no meu país : oportunidades e barreiras à cooperação
Médicos estrangeiros estudam formas de melhorar o ensino
“Apesar de estarmos longe de atingirmos os objetivos, houve uma evolução muito positiva”, declarou Sousa Santos, assistente hospitalar de Medicina Interna, em Cabo Verde, na sessão em que se falou o tema “A Medicina (Interna) no meu país: oportunidades e barreiras à cooperação”, que decorreu na manhã deste sábado.
O médico anunciou os dados da Ordem dos Médicos de Cabo Verde, onde revelam que num universo de 600 médicos inscritos na Ordem dos Médicos, há apenas 25 internistas. Contudo, a formação destes internistas é muito díspar, uma vez que se especializam em países estrangeiros como Brasil, Portugal ou Cuba.
Apontou ainda as falhas no que respeita ao setor da saúde daquele país, em que destacou: a sobrecarga de trabalho, falta de reconhecimento da profissão, ou ainda a não utilização das TIC.
Como pontos chaves para a melhoria da qualidade dos serviços de saúde de Cabo Verde, ressalvou que é emergente colocar a Medicina Interna, como especialidade mãe.
Sugeriu também que o programa curricular da especialidade em Medicina Interna, seja dividido entre diferentes países. E exemplificou “dois anos em Cabo Verde, outros dois em Portugal ou em qualquer outro país estrangeiro. Por fim, 6 meses no país de formação e outros 6 meses, noutro país estrangeiro.” Contudo, alertou “este programa só funciona desde que se estabeleça o devido rigor científico, em que o estudante seja seguido por um tutor.”
E acrescentou que só assim é possível elevar a qualidade da Medicina Interna, naquele que considera ser um país economicamente débil e com um longo caminho a percorrer para atingir os níveis de saúde desejáveis.
Concluiu, referindo que o internista desempenha um papel fundamental para os avanços do Serviço Nacional de Saúde de Cabo Verde.
“A carência de recursos humanos sobretudo especializados, é um dos problemas mais críticos que o Sistema de Saúde moçambicano enfrenta” declarou Sam Patel, especialista de Medicina Interna, em Moçambique, onde falou sobre o estado da Medicina Interna no seu país.
E acrescentou “as dificuldades não se ficam por aqui, passam também pela falta de condições técnicas, isto é, da escassez de material e de infraestruturas como a ausência de salas de aula, de bibliotecas, ou ainda de acesso fiável à internet”.
De acordo, com Sam Patel, a ausência de um plano estruturado da formação de especialistas com definição clara das áreas prioritárias, do número de especialistas a formar a curto, médio e longo prazo em cada uma delas para satisfazer as necessidades é também um dos grandes constrangimentos que o Serviço Nacional de Saúde Moçambicano se depara.
De forma a elevar o Sistema de Saúde do seu país para os níveis recomendados, Sam Patel, referiu que seria importante a cooperação de Portugal e Moçambique, no que o médico chama “o intercâmbio de estudantes”, apontando mais valias que passam pelo conhecimento de diversas patologias ou ainda por condições de trabalho muito distintas daquilo a que os estudantes estão habituados.
Concluiu, apontando que seria igualmente vantajoso, o desenvolvimento de projetos de investigação clínica conjuntos entre os dois países.
Ainda na mesma sessão, Guilherme Barcellos, médico internista e Coordenador da Choosing Wisely Brasil, revelou a sua preocupação com o estado da Medicina Interna, naquele que é o seu país, o Brasil, apontando a enorme indefinição entre os “tipos de médicos”.
E ressalvou que, a atual pandemia Covid-19 evidenciou as falhas do Sistema de Saúde Brasileiro, com enfermarias clínicas e unidades de terapia intensiva a serem sobrecarregadas de trabalho.
Ainda em torno da mesma temática, Guilherme Barcellos, salientou que para se se atuar noutras especialidades, no Brasil, é necessário primeiro, que os médicos se especializem em Medicina Interna, o que faz com que muitos médicos vejam a especialidade como um mero trampolim.
O médico demonstrou a sua preocupação contando um episódio que viveu no seu país, em que num hospital, muitos dos internistas não dominavam competências e habilidades básicas para atuação em enfermaria geral, como por exemplo, a administração de oxigenoterapia e de ventilação mecânica não invasiva, obrigatórias para qualquer internista hospitalar.
“Com a pandemia, houve hospitais, com maior prevalência para o Norte do país e no interior do Sul e Sudeste que receberam ventiladores mecânicos para montar UTIs, onde muitos seguiram com mortalidade como se não tivessem ventiladores”, concluiu.
A sessão “A Medicina (Interna) no meu país: oportunidades e barreiras à cooperação”, foi presidida por Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, moderada por Luís Campos, diretor do Serviço de Medicina do Hospital S. Francisco Xavier/Centro Hospitalar Lisboa Ocidental e contou com a participação da internista Fernanda Dias, com o tema “Angola”.