NEDVIH junta especialistas para debater tema da patologia renal
Apostado em colocar a infeção por VIH no mapa da Medicina Interna, o Núcleo de Estudos de Doenças VIH (NEDVIH) realizou no passado fim de semana, em Cascais, mais uma das reuniões de um ciclo de eventos que irá promover ao longo de 2019.
Nesta ocasião foi discutida a questão da patologia renal, tendo sido feita uma retrospetiva histórica do tema e da sua evolução, a discussão de casos clínicos, mas olhando-se também para o futuro, em que se discutiu a problemática da transplantação renal e foi apresentada uma proposta de algoritmo de avaliação da doença renal no doente com VIH.
Como explicou José Vera na sessão de abertura da reunião, o objetivo deste encontro passa por “combater a sobrecarga que, do ponto de vista sistémico, a doença por VIH tem sobre os doentes, nomeadamente através de um aumento importante das patologias de órgão”.
José Vera, coordenador do NEDVIH
O novo coordenador do NEDVIH realçou ainda a importância de fazer este ciclo de reuniões e que importância pode ter numa atualização estado da arte da infeção por VIH.
“A necessidade de realizar estas reuniões corresponde ao que tem sido a evolução da doença por VIH ao longo dos anos. Se de início estávamos muito preocupados em controlar a infeção, o que conseguimos com grande sucesso. Dentro do conceito que se tem afirmado de que a doença por VIH não é uma simples infeção mas antes uma doença sistémica, o que temos vindo a constatar ao longo dos anos é que as patologias que mais nos preocupam não passam pela supressão viral, embora esta seja fundamental, mas sim pela sobrecarga que do ponto de vista sistémico a doença por VIH tem sobre os doentes”, afirmou o internista, que considerou que a Medicina Interna tem um papel relevante neste panorama.
“Temos de investir cada vez mais numa ação de diagnóstico e tratamento precoce para patologias que são mais frequentes nestes doentes, como é o caso da doença renal, mas também das doenças metabólicas, mentais e oncológicas.”
O coordenador do NEDVIH lançou ainda o desafio aos mais jovens para que se envolvam nestes fóruns de discussão, porque, realçou, estes são doentes que encontram em regime de ambulatório, mas também no contexto da enfermaria, e cujo seguimento é importante ser feito de forma correta e atempada.
A terminar, José Vera elogiou a integração e colaboração das especialidades presentes, como a Nefrologia, assim como da MGF, frisando que “todos têm um papel fundamental na saúde e bem estar dos doentes”.
José Vera e Inês Vaz Pinto
Inês Vaz Pinto, da comissão organizadora da reunião, congratulou-se pela elevada afluência da reunião e destacou o teor científico das palestras, ao passo que Domingos Machado, diretor da Unidade de Transplantação do Hospital de Santa Cruz e diretor do serviço de Nefrologia daquela unidade, recordou os tempos do aparecimento do VIH para sublinhar que hoje se vivem tempos radicalmente diferentes.
“Não se conheciam bem os contornos da doença e só mais tarde se percebeu que era uma patologia infecciosa, e que hoje nos apercebemos que cada vez mais que é uma doença sistémica, que afeta múltiplos sistemas e funções. Por isso”, salientou, “esta é uma oportunidade de troca de conhecimento e ensino médico extraordinariamente interessante para todos. A Nefrologia tem uma tradição de colaboração e disponibilidade para ajudar, e esperamos que nesse campo possamos corresponder às vossas expetativas”.
Já Isabel Pardal, presidente do conselho clinico e de saúde do ACES Cascais, lembrou que a infeção por VIH tem sido sempre uma prioridade do concelho e enumerou alguns dos objetivos para os próximos anos:
“Cascais , Lisboa e Porto foram as primeiras localidades a inaugurar a via rápida para acabar com VIH SIDA até 2030 e a primeira missão é que até 2020 todas as pessoas que vivem com VIH o saibam e possam passar à fase de tratamento. Para isso, a MGF tem um papel importante no diagnóstico e também na prevenção, cumprindo o desafio da educação e da capacitação do cidadão desde a idade escolar até idades mais avançadas”, sentenciou.
A terminar, Eduarda Reis, diretora clínica do Hospital de Cascais, revelou que a unidade de saúde tem tido um grande empenho na problemática do VIH, estando comprometido com a deteção precoce e tratamento dos casos diagnosticados.
“Qualquer doente que recorra aos nossos serviços, que tenha entre 18 e 65 anos e não tenha feito o rastreio no último ano, é-lhe oferecida a análise e restante abordagem adequada. Temos um compromisso com a nossa comunidade, com uma consulta dedicada e sempre em parceria entre o Hospital e o ACES a que reportamos, numa perspetiva de entreajuda e integração de cuidados”, concluiu.
O ciclo de reuniões temáticas promovido pelo NEDVIH terá a sua próxima edição em Guimarães, a 6 de abril, com o tema Patologia Cardiovascular, a que se seguem reuniões sobre Patologia Metabólica, Doença Mental e Neurocognitiva, e Doença Neoplásica, nas cidades de Santarém, Lagos e Lisboa, respetivamente.
(12/02/2019)