Medicina Interna dá “passo em frente” na formação em Nutrição
Foi com casa cheia que o Auditório da Escola Superior de Saúde de Santa Maria, no Porto, recebeu os mais de cem alunos que frequentaram o primeiro curso de Nutrição Clínica promovido pelo Núcleo de Estudos de Nutrição Clínica (NENC) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI).
Durante um fim de semana, alguns dos mais reputados especialistas nesta área abordaram temas como o apoio nutricional no doente idoso e no doente oncológico, numa iniciativa que Aníbal Marinho, coordenador do NENC e um dos diretores do curso, considerou pioneira.
“Esta é uma ação importante em termos de formação porque é uma área em que ela não existe. Efetivamente, a nível europeu não há formação médica sobre nutrição artificial e nutrição clinica, e daí a importância deste curso. A Medicina Interna está a dar um passo em frente face a outras especialidades em termos de formação”, sublinhou o especialista, que ainda assim afirmou que é necessário fazer mais.
“As pessoas têm vontade de aprender. Os médicos não sabem, têm essa consciência, e o número de alunos inscritos revela que há vontade de evoluir. A nós cabe-nos estimular e fazer crescer o número de médicos formados”, concluiu.
Cancro exige abordagem integrada e multimodal
Paula Ravasco, professora e investigadora na Unidade de Nutrição e Metabolismo do Instituto de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina de Lisboa, foi a responsável pela formação do curso durante uma tarde dedicada aos doentes oncológicos. A especialista assume que a formação é crucial e está em défice nas universidades portuguesas.
“Faz muita falta a formação na área da nutrição para médicos internistas e médicos no geral. Efetivamente, a nutrição é uma ciência multidisciplinar e todos devem saber falar a mesma língua, o que atualmente não acontece. As dúvidas perduram e deixam o doente praticamente abandonado. Desse ponto de vista, para os médicos, esta formação é uma mais valia para complementar a formação académica que já têm”, garantiu a especialista.
Sobre a ligação da Nutrição com a Oncologia, Paula Ravasco confirma que os laços entre as duas especialidades são cada vez mais evidentes e preponderantes no resultado final do tratamento.
“Em todas as fases da doença oncológica a Nutrição está lá. Como fator de risco ou protetor para a doença oncológica, depois do diagnóstico positivo em que a dieta tem de ser individualizada, e quando o doente termina a fase de tratamento e a nutrição volta a ser essencial para o doente recuperar tudo aquilo que no entretanto foi perdendo. É essencial na recuperação e regresso à vida ativa”, diz a médica, que explica que “a abordagem deve ser multimodal, com a nutrição como coadjuvante da terapêutica médica e farmacológica, não esquecendo o exercício físico, integrando todo o conhecimento para desenhar um plano de intervenção global”.
Como resultado desta prestação de cuidados integrados, Paula Ravasco garante que se consegue uma melhor eficácia e prognóstico, com impacto na sobrevida e qualidade de vida do doente.
(20/11/2019)