Luta contra a diabetes: «Ganhamos batalhas, mas estamos a perder a guerra»
Uma doença desvalorizada pela população e pela comunidade dos profissionais de saúde é como o ex-diretor do Programa Nacional para a Diabetes da Direção-Geral da Saúde vê a realidade da diabetes em Portugal. “É uma doença silenciosa e silenciada”, diz José Manuel Boavida.
O médico, que agora voltou a tempo inteiro à APDP (Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal), foi convidado para proferir a conferência de abertura da 11.ª Reunião Anual do Núcleo de Estudos da Diabetes Mellitus (NEDM) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) e não poupou nas palavras.
José Manuel Boavida começou por afirmar que estamos perante uma doença “que não merece uma grande relevância” por parte da sociedade, até por haver a ideia de que “as pessoas vão vivendo com ela…” Essa desvalorização estende-se, no seu entender, ao campo da investigação científica, onde a diabetes “é claramente discriminada, apesar do seu impacto social”, o que se traduzirá em menor financiamento para investigar.
O dirigente da APDP não hesitou em afirmar que a diabetes “é desvalorizada pelos decisores políticos”, que transmitem a ideia de que “ela deve reduzir-se à sua insignificância”. Perguntou mesmo: “Estará alguém a prestar atenção àquilo que se passa com a diabetes?”
“Estatísticas temos, sabemos onde estamos, temos consciência do seu impacte brutal em todo o mundo, mas, apesar disso, a diabetes continua essencialmente invisível à vista dos governos mundiais”, lamentou José Manuel Boavida, que se mostrou muito pessimista quanto à realidade da diabetes: “Ganhamos batalhas, mas estamos a perder a guerra.”
Diabetologia: “pelo menos como competência”
Entretanto, Carlos Godinho, que é coordenador Regional da Diabetes da ARS Algarve e foi o responsável pela 11.ª Reunião Anual do NEDM, defendeu, em declarações à Just News, que a Diabetologia “devia ser reconhecida, pelo menos, como competência pela Ordem dos Médicos”. E frisou: “Não se compreende que isso ainda não tenha acontecido, tendo em conta o flagelo desta doença a nível mundial, quando até áreas mais recentes já são especialidade.”
Para além do presidente da Câmara Municipal de Olhão, António Pina, que saudou os congressistas, também interveio na sessão de abertura o presidente da SPMI. Luís Campos haveria de subscrever a posição de Carlos Godinho, esclarecendo que a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna e o Colégio da Especialidade de Medicina Interna da Ordem dos Médicos “apoiam o aparecimento de competências”.
“Todos os internistas têm uma vocação generalista, mas, de facto, muitos de nós temos uma diferenciação em alguma das áreas e os núcleos de estudos da SPMI são esta expressão de diversidade fenotípica que a Medicina Interna tem, na diabetes, na autoimunidade, na insuficiência cardíaca, no VIH…”, afirmou.
Podem ser consultadas mais fotos da 11.ª Reunião Anual do NEDM na Galeria de imagens.
(30/10/2016)