Jornadas do NEMPal salientam importância da Comunicação

Decorreram no último fim de semana, na Fundação Dr. António Cupertino de Miranda, no Porto, as II Jornadas do Núcleo de Estudos de Medicina Paliativa (NEMPal). Depois do êxito da primeira edição, no ano passado, estas jornadas centraram-se no tema “Comunicação em cuidados paliativos e fim de vida”, que, segundo Elga Freire, é um dos “pilares da abordagem clínica”.

“Em cuidados paliativos, a comunicação é um dos focos da nossa ação. É tão importante como o diagnóstico ou a instituição do tratamento adequado. Sentimos todos os dias a necessidade de mais investimento nesta área da comunicação e, por isso, decidimos abordar este tema”, afirmou a internista e coordenadora do NEMPal na sessão de abertura do encontro, onde esteve também presente o presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), que assumiu a importância crescente dos cuidados paliativos no âmbito da Medicina Interna.

“Os cuidados paliativos são uma área de relevância dentro da Medicina Interna, que sempre os encarou como sua vocação natural. A Medicina Interna é uma especialidade generalista, que se sente particularmente confortável no seguimento e tratamento do doente complexo, habitualmente idoso, com múltiplas patologias, em que muitas vezes o tratamento curativo deixou de fazer sentido”, começou por dizer João Araújo Correia, que acrescentou que “o domínio da comunicação é crucial para conseguir a necessária empatia na relação médico-doente”.

Rui Carneiro, Maria Céu Rocha, João Araújo Correia e Elga Freire

“Saber comunicar é uma competência fundamental para oferecer cuidados assistenciais de qualidade. As palavras podem ajudar muito quando empregues no momento e no tom certo, sem pressas ou atropelos”, afirmou o internista, que acentuou que quando o médico consegue “induzir a paz no doente, sem lhe apagar a centelha da esperança, deve sentir o mesmo orgulho de quando executa um diagnóstico difícil ou uma técnica complicada”.

Edna Gonçalves, presidente da Comissão Nacional de Cuidados Paliativos, não faltou a estas II Jornadas, mostrou regozijo pelo crescente interesse dos médicos pelos cuidados paliativos e lembrou a necessidade de mais formação.

“Obviamente que a medicina paliativa implica formação avançada e também prática. Precisamos muito de estágios práticos e equipas especializadas para que os colegas possam treinar, pois só assim conseguiremos melhorar os cuidados prestados aos doentes”, explicou.

Também Duarte Soares, presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos, focou a necessidade de formação em cuidados paliativos e reconheceu que estes têm na Medicina Interna um dos seus grandes motores.

“De facto, devemos reconhecer que há uma grande falta de médicos com formação e competências nesta área. É um problema de difícil resolução e que só com a força e trabalho conjunto da Medicina Interna e da MGF poderá ter solução”, sublinhou.

Carlos Mota Cardoso, representante do Bastonário da Ordem dos Médicos, fechou as intervenções da sessão de abertura, relevando a importância do encontro entre médico e doente para a prática de uma medicina de qualidade e de cariz humanista.

As II Jornadas do Núcleo de Estudos de Medicina Paliativa ficaram ainda marcadas pelo lançamento do iBook do “Guia Prático de Controlo Sintomático”, cuja edição impressa já vai em mais de 3000 exemplares, com distribuição em todo o país, com utilidade reconhecida por diversas especialidades.

Quem dedicou este sábado quente de setembro a esta reunião do NEMPal deu-o por bem empregue, por esta oportunidade única de ouvir especialistas dedicados a dar palestras muito vivas, absolutamente notáveis, no conteúdo e no sentimento. O evento terminou da melhor maneira, com a representação de um caso real de um doente terminal, com a família e a equipa de saúde, pelo Grupo de Teatro do ICBAS (SOTAO).

(24/09/2018)