Idosos no Serviço de Urgência: Revista lança coleção para otimizar cuidados

A Revista Medicina Interna, da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), lançou uma nova coleção dedicada ao tema “Idosos no Serviço de Urgência”, destacando a complexidade dos cuidados prestados a esta população e a necessidade de uma abordagem mais especializada e adaptada.

O editor-chefe da revista, José Mariz, explicou as motivações por trás desta iniciativa e os desafios enfrentados pelos profissionais de saúde. De acordo com José Mariz, “não há forma de esconder o envelhecimento da população” e o impacto desta realidade reflete-se diretamente no Serviço de Urgência (SU). “Sendo o SU a rede de proteção das redes de proteção do SNS, é no SU onde mais se evidencia a complexidade do problema da evolução demográfica do nosso país, uma vez que o idoso necessita de cuidados cada vez mais complexos”, afirmou.

Entre os principais desafios enfrentados pelos profissionais de saúde no atendimento aos idosos, destacou “a sobrelotação dos hospitais e redes de apoio na comunidade, tais como camas de cuidados continuados, hospitais de dia e apoio domiciliário”. O editor enfatiza ainda a importância de equipas multidisciplinares, compostas não apenas por médicos e enfermeiros, mas também por assistentes sociais e familiares. “É necessário tempo e pessoal qualificado para dar formação aos familiares e cuidadores informais”, frisou. A sobrelotação dos SU também contribui para um aumento da morbidade e mortalidade entre os idosos, bem como para a incidência de delirium, erros na medicação e tratamentos inadequados. “O aumento do tempo de permanência no SU está associado ao aumento da institucionalização e consequente aumento de custos que seriam evitáveis”, acrescentou.

Para incentivar a implementação de estratégias baseadas na evidência, a Revista Medicina Interna pretende “dedicar tempo editorial para receber artigos que abordem esta temática, fornecendo assim linhas de investigação e orientação de boas práticas”, explicou José Mariz. Segundo o editor, é essencial que decisores políticos e gestores de saúde tenham acesso a publicações nacionais elaboradas por especialistas que trabalham no terreno. “A nossa ajuda, enquanto revista científica, é aumentar a publicação científica e de opinião de experts“, salientou.

José Mariz reconheceu o potencial da tecnologia na melhoria da abordagem ao idoso no SU, mas alertou para os desafios que a digitalização pode trazer. “Há já muita evidência de sistemas informáticos que alertam para interações medicamentosas e reduzem a polimedicação no SU. Alerta gerados nos processos eletrónicos ajudam a prevenir delirium, por exemplo”, afirmou. No entanto, chama a atenção para o impacto negativo da sobrecarga digital nos profissionais de saúde. “Do meu ponto de vista, muito há para evoluir no alívio da sobrecarga digital dos profissionais para poderem estar mais à cabeceira dos idosos”, referiu.

Quanto às áreas que ainda necessitam de mais investigação, o editor destacou que “o cuidado do idoso ilustra todos os aspetos da saúde, desde a polimedicação, prevenção de quedas, definição de funcionalidade no idoso, medidas não farmacológicas, integração dos cuidados na comunidade e definição apropriada do que deve ser referenciado ao SU”. Por fim, reforçouo convite para que os profissionais de saúde submetam os seus trabalhos sobre o tema para a Revista Medicina Interna. “Esta ‘call’ é para todos os profissionais de saúde. Na submissão do artigo, além de sinalizar a tipologia, podem indicar que querem submeter com a temática especial, por forma a terem uma avaliação dedicada”, concluiu.

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(31/03/2025)