Hospitalização Domiciliária do HGO já contabiliza 21.000 dias de internamento… em casa
Apesar de o projeto de hospitalização domiciliária no Hospital Garcia de Orta (HGO) ter arrancado, em 2015, com 5 camas apenas, tem agora capacidade para assistir 25, devendo acrescentar-se outras 5 da UHD Covid, criada em março de 2020, na resposta à pandemia.
É com orgulho que Rita Nortadas, a especialista de Medicina Interna que coordena atualmente a Unidade de Hospitalização Domiciliária (UHD), recorda o tempo em que ainda se sonhava com esta valência e quando a ideia foi apresentada ao Conselho de Administração do Hospital Garcia de Orta, que apoiou a sua criação como projeto-piloto.
Tanto que a UHD do HGO conquistou logo, em 2016, o 1.º Prémio de Boas Práticas em Saúde, uma iniciativa da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar (APDH), Direção-Geral da Saúde, Administração Central do Sistema da Saúde e Administrações Regionais de Saúde.
Rita Nortadas: “Sempre gostei muito da patologia sistémica, multiorgânica e de ver a pessoa no seu todo. É um desafio investigar o doente complexo e multipatológico.”
“O risco de infeções nosocomiais diminui significativamente”
A capacidade de resposta da UHD foi aumentando, assim como a complexidade dos casos internados em casa. “Começámos pelos doentes de Medicina Interna, mas atualmente prestamos igualmente cuidados a doentes de outras especialidades, incluindo as cirúrgicas”, explica Rita Nortadas.
No entender da médica, que integra a UHD do Garcia de Orta desde o primeiro instante, “temos demonstrado ser possível tratar doentes de nível hospitalar em suas casas e com maior benefício. E acrescenta:
“O risco de infeções nosocomiais diminui significativamente, a recuperação e a aquisição de autonomia são mais rápidas, há menos casos de síndrome confusional e os utentes sentem outro bem-estar por estarem no seu espaço e por terem a sua própria cama e comida, para além da privacidade, além de ser custo-efetiva.”
Quanto à UHD destinada a doentes covid, sempre que haja condições sociais e de isolamento, são encaminhadas para esta Unidade pessoas internadas por outras patologias, mas cujo rastreio à infeção por SARS-CoV-2 foi positivo, assim como aqueles que, hospitalizados devido a infeção respiratória covid, estão estabilizados e podem recuperar no domicílio.
“Vemos a doença física e a emocional de quem está internado e também a do agregado familiar”
Para Sérgio Sebastião, enfermeiro gestor do projeto desde o primeiro dia, não há qualquer dúvida quanto à “evidente mais-valia” da telemonitorização face ao decréscimo de recursos de saúde e à necessidade de racionalização dos mesmos:
“A utilização desta tecnologia possibilita, à distância e de um modo eficaz, que haja resposta a um maior número de doentes, quer pela facilidade de troca de informação como pela proximidade, permitindo assim a ação conjunta na tomada de decisão.”
Olhando para estes últimos 5 anos, admite que, inicialmente, jamais pensou que a UHD tivesse o crescimento que teve, na sequência da sua criação, e que existissem hoje outras três dezenas de unidades semelhantes. “Crescemos muito mais do que alguns países europeus!”, frisa Sérgio Sebastião.
O segredo está, na sua opinião, no “imenso trabalho e dedicação” e no espírito de interajuda. “Não quisemos guardar o nosso conhecimento, ao contrário, contactámos com outras unidades, criámos amizades e já há, inclusive, transferência de casos entre UHD”, refere o responsável, fazendo questão de sublinhar:
“Quem mais ganha são os doentes, mas também os próprios profissionais de saúde, porque trabalhamos mesmo em equipa multidisciplinar, o que é bastante mais motivador, além de que há mais reconhecimento e valorização por parte dos utentes e cuidadores, o que nem sempre acontece no hospital.”
Chegar a 10-20% de internamentos no domicílio
Ao fim de 5 anos, a equipa está pronta para dar continuidade ao seu trabalho, como sublinha Maria Francisca Delerue, diretora do Serviço de Medicina do HGO e rosto do projeto desde o primeiro dia. Recorda-se que os primeiros tempos foram de alguma incerteza, mas as coisas acabaram por correr bem.
“Foi complicado ser pioneiro. Havia muitos receios, mas todos os esforços valeram a pena. Um momento que me fez sentir o maior orgulho foi quando 23 hospitais assinaram, em 2018, o protocolo de compromisso de abertura de unidades de hospitalização domiciliária. É muito menos dispendioso para o SNS, comparativamente com a criação de um hospital de raiz”, garante.
Quanto à motivação dos profissionais, que também querem manter a sua atividade no hospital, sobretudo no início de carreira, Maria Francisca Delerue optou por permitir tempos partilhados, deixando apenas a coordenadora a título exclusivo.
A criação mais recente da UHD Covid foi também um passo desafiante e admite que nesta aventura “muito ajudaram” as orientações emanadas pelo Núcleo de Estudos de Hospitalização Domiciliária da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, aliás, por si coordenado.
Quanto ao futuro, espera-se chegar a 10-20% de internamentos no domicílio e a enfermagem quer aperfeiçoar a telemonitorização, ter um projeto de reabilitação respiratória, investir mais na reabilitação motora e na colocação de cateteres centrais no domicílio no caso de fármacos mais agressivos para as veias periféricas.
In JustNews
(16/06/2021)