HIGHLIGHTS EASD 2018 – NEDM

De 1 a 5 de Outubro, ocorreu em Berlim a 54ª Reunião anual da European Association Study of Diabetes.

Os diabetologistas reuniram-se para conhecerem, discutirem e refletirem sobre os últimos dados e novidades cientificas. O Núcleo de estudos da Diabetes mellitus da SPMI esteve presente com vários membros (Dr Estevão Pape, Dra Joana Louro, Dra Susana Heitor e Dr Paulo Subtil) e no rescaldo do congresso o NEDM assinala as Highlights EASD 2018.  

Consenso da ADA/EASD na abordagem da DM2

No dia 5 de outubro foi divulgado o documento que define as novas orientações clínicas na abordagem da hiperglicemia no doente com DM2. Trata-se de um documento conjunto entre a European Association for the Study of Diabetes (EASD) e a American Diabetes Association (ADA). De salientar quatro aspectos mais relevantes:

  1. Abordagem centrada no doente, sendo o objetivo final da terapêutica a evicção das complicações e a qualidade de vida da pessoa com diabetes. Para tal há que considerar as caraterísticas individuais (idade, HbA1C, presença de complicações) para definir objetivos de controlo metabólico e em função disso serem selecionadas opções terapêuticas. A pessoa deve ser sempre envolvida e deve haver concordância e compromisso no cumprimento do plano terapêutico selecionado. A reavaliação e intensificação terapêutica deve ser após três meses.
  2. Após o diagnóstico a modificação estilo de vida continua a ser um ponto fulcral, com grande destaque para os benefícios da dieta mediterrânica e exercício físico;

metformina continua a ser o indicado como terapêutica de primeira linha.

  1. Em relação às terapêuticas de segunda linha surgem novas orientações, muito específicas para os doentes com doença aterosclerótica estabelecida, doença renal crónica e insuficiência cardíaca, que indicam a seleção de medicamentos como os a GLP1 e iSGLT2. Tal é devido aos resultados muito favoráveis nos ensaios de outcomes cardio renais destes fármacos, que demosnstraram benefício, para além de segurança.
  2. Primeira medicação injetável deve ser um a GLP1, principalmente se o excesso de peso for uma prioridade. Mas, considerar a insulina sempre que HBA1C> 11% e sempre que se trate de doente insulino carente (ie, LADA ou doente com muitos anos de evolução).

“Velhos Estudos”. Sempre Actuais

UKPDS 40 anos depois – Olhar para o passado, reanalisar e refletir sobre o que já foi feito é sempre um excelente exercício para balizar o presente e para percebermos o quanto podemos aprender com o caminho já feito. E foi um pouco disto que foi feito nesta sessão magistral do congresso. Percorreram-se os quase 40 anos de historia do UKPDS, com a emoção de quem olha para trás, mas com o rigor cientifico de dados que mudaram absolutamente a forma como se via e se tratava a Diabetes. Mensagens chave:  os estudos quando são bem estruturados permitem resultados que têm tradução em guidelines e em politicas de saúde, permitem alterar a forma como abordamos e tratamos a Diabetes e tem tradução direta na redução da morbilidade e mortalidade e na melhoria da qualidade de vida dos doentes. E este foi o grande impacto do UKPDS, apesar de todas as limitações vistas à luz da evidencia cientifica atual. Segunda mensagem: O controlo metabólico intensivo tem impacto na redução da mortalidade cardiovascular, ainda que sejam precisos 10 anos para ter percebido isso, traduzindo o importante conceito do legado ou memória metabólica.

Novos Ensaios. Novos Dados

O elevado número de dados, estudos, abstracts e sessões apresentadas em simultâneo, torna a missão de resumir e destacar quase impossível. Ficam portanto, apenas alguns resultados, num universo de outros também importantes.

– CARMELINA – estudo dos resultados CV da linagliptina. O ensaio demorou 2,1 anos. A Linagliptina demonstrou um perfil de segurança CV e segurança renal a longo prazo, num perfil de doentes único, com DT2 e elevado risco CV e doença renal. A linagliptina demonstrou que não aumenta o risco de insuficiência cardíaca, mesmo em doentes com alto risco. Adicionalmente demonstrou uma redução significativa do risco de progressão para albuminúria (HR 0.86, CI 0.78, 0,95 p=0.0032)”.

– LY3298176 – nova associação dupla dos agonistas de GIP e GLP-1 – ensaio clínico de fase 2b em comparação com placebo e dulaglutido 1,5mg. Este estudo demonstrou uma redução significativa da HbA1C associada a uma perda de peso em pessoas com tipo 2 diabetes. Os dados a seis meses demonstraram reduções médias de HbA1c até 2,4 pontos percentuais e uma redução de peso média até 11,3 kg (12,7%). (publicado em simultâneo no The Lancet)

– DURATION 8 – análise da eficácia e segurança da associação de dapagliflozina com exenatido semanal às 104 semanas. Os resultados das 104 semanas foram consistentes com os resultados das 24 e 52 semanas, os doentes com DM2 continuam a obter beneficio na redução da HbA1c e peso corporal sem episódios de hipoglicémias. Adicionalmente, o estudo DURATION 8 demonstrou redução da insulina resistência e o marcador fatty liver índex (FLI) correlacionado com o desenvolvimento da esteatose hepática.

– VERTIS MONO, VERTIS MET e VERTIS SITA2 – foi apresentada uma pooled analysis baseada em 3 estudos de fase III e que foi conduzida para melhor caracterizar a segurança e a eficácia da ertugliflozina versus placebo na HbA1c, peso corporal e pressão arterial sistólica. Verificou-se que em doentes com DM2 já medicados com outros agentes antihiperglicémicos e um controlo metabólico inadequado, ertugliflozina 5 e 15 mg acrescenta um significativo benefício clínico que é sustentado ao longo do tempo, não apenas na redução de HbA1c, mas também da glicémia plasmática em jejum, do IMC e da PA.

 BRIGHT (o primeiro estudo H2H com U300 e insulina degludec). Dos resultados, é de salientar a redução da taxa de hipoglicemias (≤54 mg/dL), durante o período de titulação (0-12 semanas), nos doentes que estavam a fazer U300, que foi menor em 43%.

– CONFIRM – através de uma base de dados dos E.U.A. (dados do mundo real), verificou-se que em mais de 4000 doentes iniciadores de insulina basal, os que iniciaram terapêutica com insulina Degludec apresentaram um risco inferior em 30% de hipoglicemia e uma redução na taxa de descontinuação da terapêutica, comparativamente a insulina Glargina U300.

Joana Louro/Susana Heitor (NEDM/SPMI)