De olhos postos no futuro do VIH: XXI Jornadas do NEDVIH

Recuperar o futuro é a premissa que marca as XXI Jornadas do Núcleo de Estudos da Doença VIH (NEDVIH) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI). A reunião ocorreu entre os dias 3 e 4 de março, em Lagos, sendo caracterizada por um programa científico que abrangeu conferências, mesas-redondas e comunicações orais, criando um espaço de discussão sobre o tema do Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH).

A tarde do primeiro dia iniciou-se com a sessão de abertura conduzida pelo coordenador do NEDVIH, José Vera; pelo Diretor do Serviço de Medicina 2 do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA), José Manuel Ferreira; pela Responsável pela Consulta de Imunodeficiência na UH Portimão, Domitília Faria; pela Diretora do Serviço de Medicina 3 do CHUA, Luísa Arez, e pela Representante da Câmara Municipal de Lagos, Sara Coelho.

José Vera deu início à sessão, destacando a importância do tratamento e da prevenção, no que ao VIH diz respeito. “Desde sempre que o tratamento é parte essencial do nosso trabalho, porque ainda não atingimos a cura. O VIH não é apenas uma infeção viral, é uma doença sistémica. Ainda hoje defendemos a existência de unidades de ambulatório para doentes com VIH. Além disso, também defendemos uma nova visão hospitalar de como deve ser organizado o atendimento em ambulatório de doentes mais complexos”. O coordenador do NEDVIH acrescentou, ainda, que os hospitais necessitam de se articular com outras estruturas regionais, para que possam colaborar na promoção da prevenção. Concluiu ao enaltecer o papel da SPMI, que acolhe no seu seio todos os núcleos de pessoas que se dedicam a várias patologias. “Com esse trabalho de dedicação e maior profundidade, só enriquecem a eficácia com que os serviços de Medicina tratam os doentes”, finalizou.

De seguida, decorreu a mesa-redonda “Infeção VIH na formação específica em Medicina Interna, que futuro?”, moderada por Luísa Azevedo e Pedro Cunha, onde se evidenciou a realidade do profissional de saúde que contacta com esta condição. Vasco Gaspar clarificou a perspetiva do interno, explicando a utilidade desta área no percurso do interno. Debruçou-se, ainda, sobre o futuro do doente e do VIH, destacando o acompanhamento médico especializado, a gestão de comorbilidades e do doente crónico; a cobertura nacional; os novos fármacos e, por fim, os objetivos ONUSIDA. “Só com todos e em todo o lado para chegar a todos”, terminou.

Por sua vez, Helena Sarmento focou-se na visão do especialista. “O futuro é a afirmação do que é a Medicina Interna. Não consigo dissociar a formação em VIH da formação em Medicina Interna. O doente VIH é cada vez mais um doente crónico e que cada vez menos vemos em cuidados paliativos”. Para a oradora, é urgente haver médicos com uma visão abrangente do doente e dos cuidados de saúde. Afirmou que a infeção VIH não está resolvida a nível mundial, tendo havido em Portugal, entre 2020 e 2021, 1803 casos de novas infeções e 298 óbitos.

Por fim, a opinião sobre este tema, do ponto de vista SPMI, é partilhada por Lèlita Santos. “Estamos todos em consonância. Temos a noção verdadeira de tratar o doente no seu todo. Em Portugal, é importante racionalizar o percurso destes doentes”, começou por dizer.

Segundo a presidente da SPMI, é estimado que em 2037, 80% das pessoas com VIH tenham mais de 50 anos. Além do vírus, estas pessoas viverão com outras doenças associadas à idade, e importa perceber como é que é possível garantir a sua qualidade de vida.

“O aumento exponencial do conhecimento médico conduziu a uma crescente diferenciação dos internistas no manuseamento de certas patologias. Esta diferenciação em várias áreas do saber permitiu criar aos serviços de Medicina Interna equipas de tratamento de patologias específicas e possibilitou o aparecimento, na SPMI, de Núcleos de Estudos”, acrescentando que faz todo o sentido que uma das áreas específicas alvo da formação do futuro internista seja também a da doença VIH.

Falou, ainda, da certificação de internistas em áreas específicas, que engloba a atividade assistencial, a formação médica contínua, a docência, a investigação e a liderança e gestão clínica.

“No rescaldo da pandemia, como recuperar as metas da OMS para o controlo da infeção VIH?”, foi a conferência seguinte presidida por José Vera, com o contributo de António Diniz.

A tarde do primeiro dia é encerrada dando voz ao tema da saúde mental. “Viver com VIH e a saúde mental” inicia-se com a questão “Estigma ainda uma realidade?”, através da oradora Ana Duarte, seguindo-se de “Como abordar a ansiedade e depressão no VIH”, por Flávia Polido. “O VIH e o impacto na sexualidade” é analisado por David Evans e “O VIH e o impacto do envelhecimento” por Sílvia Ouakinin. Este tema contou com a moderação de Telo Faria e Catarina Esteves.

O segundo dia de trabalhos englobou as comunicações orais e a discussão dos temas “O papel da terapêutica injetável no futuro próximo” e “Resistências – O que podemos esperar no futuro”.

O grande final das XXI Jornadas do NEVIH é celebrado na cerimónia de encerramento, onde José Vera, Ana Pimenta Castro e Domitília Faria fizeram um balanço da iniciativa, que foi ainda marcada por um momento de homenagem a Carlos Santos e Ana Paula Fonseca, fundadores das Consultas de Imunodeficiência no Algarve.

(06/03/2023)