Cuidar em Casa no Contexto da Hospitalização Domiciliária
II Congresso Nacional de Hospitalização Domiciliária decorre até este sábado, dia 4, na Costa da Caparica. Especialistas reúnem-se para discutir presente e futuro do modelo de internamento.
Qual a pertinência da Hospitalização Domiciliária no setor da saúde em Portugal? Quais os ganhos para o doente em contexto deste modelo de internamento? E para o Sistema de Saúde? Este e outros pontos de reflexão estão a ser debatidos naquele que é o II Congresso Nacional de Hospitalização Domiciliária, que se iniciou esta sexta-feira, 3 de junho, e termina este sábado, 4, no Hotel Tryp Lisboa Caparica Mar.
“Em 2020, 4830 doentes foram tratados em HD e, no ano de 2021, foram 7253. Temos um hospital fora dos hospitais. Para quem tem ainda dúvidas e questiona o custo da implementação de UHD é preciso dizer que construir um hospital de 300 camas é muito mais caro do que foi pôr a funcionar todas estas unidades!” destacou Francisca Delerue, médica e Diretora do Serviço de Medicina Interna do Hospital Garcia de Orta, na sessão de abertura do congresso.
“Os hospitais devem ficar reservados para os doentes realmente graves. Nesta fase é preciso que a tutela perceba que é preciso criar condições para aumentar número de doentes. A principal dificuldade são os recursos humanos”, descreveu a Presidente do Congresso.
O primeiro dia de congresso ficou marcado pela realização de três Mesas-Redondas.
“Hospitalização Domiciliária – O Estado da Arte em Portugal” contou com palestrantes convidados Vitória Cunha (HGO); Nuno Bernardino (CHUA) e Pedro Correia Azevedo (CUF).
“O projeto de Hospitalização Domiciliária vai ficar na história, pela forma como cresceu e se implementou de forma vertiginosa em todo o país. Temos hoje 36 unidades, e uma unidade privada”, destacou Nuno Bernardino (CHUA), médico internista e coordenador da Unidade de Hospitalização Domiciliária de Portimão.
Por sua vez, Pedro Correia Azevedo (CUF), que falava sobre ‘Para Onde Vamos” defendeu que, em termos de futuro, o modelo iniciado deve sofrer uma adaptação.
“O que fazemos hoje é extraordinário, mas no futuro podemos fazer diferente. A HD é o bináculo do Value-Based HealthCare. Aquilo que no Hospital Infanta Leonor, em Madrid, designam de UDH 2.0, assenta na aposta na digitalização, protocolos de seleção de doentes, envolvimento de outras especialidades médicas, unidade de hospitalização domiciliária temáticas, formação de cuidadores”, destacou o médico internista.
Para a presidente do II Congresso Nacional de Hospitalização Domiciliária, Francisca Delerue o futuro deve fazer-se com uma articulação diária e contínua com os cuidados de saúde primários, evitando, desta forma, exames complementares e internamentos.
“Com o tempo os cuidados de saúde primários começam a perceber que não vale a pena enviar doentes para urgência. Doentes por exemplo com um diagnóstico de infeção urinária já não vão para a urgência. O futuro é, realmente, evitar que os doentes vão para o hospital, e isto pode ser uma mais-valia para os cuidados de saúde primários”, disse.
Com moderação a cargo de Catarina Pereira (CHVNGE) e Miguel Santos (CHSJoão) seguiu-se, já no período da tarde, a Mesa-Redonda “Qualidade e Segurança em Hospitalização Domiciliária”.
O segundo dia do encontro, esse, iniciou-se com a Mesa-Redonda “Antibioterapia Domiciliária”.
Antibioterapia Domiciliária, Patologia Respiratória, Cuidados Paliativos, Integração de Cuidados e Patologia Cardiovascular foram outros dos temas que estiveram em destaque durante aquele que foi o último dia do encontro.
Em representação da Presidente da SPMI, Nuno Bernardino enfatizou o apoio da sociedade científica no crescimento da HD em Portugal.
“A SPMI teve um papel bastante importante na dinamização da HD através dos nossos colegas espanhóis. Tentámos, sempre, ir apoiando a unidade do Hospital Garcia de Orta e tentar convencer a tutela das mais-valias deste modelo. O rosto mais visível deste crescimento é o Núcleo de Estudos de Hospitalização Domiciliária que é um dos mais dinâmicos”, disse o internista do Centro Hospitalar Universitário do Algarve.
Em Portugal já foram tratados 16.183 doentes até ao fim do ano de 2021, em Hospitalização Domiciliária.
(05/06/2022)