Cuidados paliativos: «Todos os médicos devem ter alguma formação nesta área»
“Os cuidados paliativos têm sido esquecidos pelo poder político e até um pouco pelos próprios médicos”, considera o bastonário da Ordem dos Médicos. Miguel Guimarães falava na cerimónia de abertura das 1as Jornadas do Núcleo de Estudos de Medicina Paliativa (NEMPal) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), que decorreu há dias, na Fundação Dr. António Cupertino de Miranda, no Porto, e que registou quase centena e meia de participantes.
“Numa altura em que se discute a questão da eutanásia, é importante que comecemos a dedicar as nossas energias não só aos cuidados paliativos, que neste momento, em Portugal, chegam a apenas 15% das pessoas que necessitariam dos mesmos, mas também ao combate à distanásia”, afirmou.
Segundo Miguel Guimarães, as questões relacionadas com a distanásia são difíceis: “A grande maioria dos médicos não está preparada para dizer quando não deve continuar a fazer um tratamento ao doente, porque já não vale a pena, e que tem é de lhe oferecer a melhor qualidade de vida.”
Aquele responsável considera que “todos os médicos devem ter alguma formação na área dos cuidados paliativos” e a Ordem dos Médicos terá de ter um papel importante, porque “tem o dever de fazer recomendações sobre esta matéria e promover reuniões junto dos médicos, sobretudo daqueles que mais precisam”.
“Medicina Paliativa é muito importante para a Medicina Interna”
Luís Campos, presidente da SPMI, foi outro dos intervenientes na cerimónia de abertura. No seu discurso, o diretor do Serviço de Medicina do Hospital S. Francisco Xavier (HSFX)/Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental (CHLO) frisou que a “Medicina Paliativa é muito importante para a Medicina Interna”.
“Os doentes que temos nas nossas enfermarias beneficiam de cuidados paliativos e de profissionais com uma diferenciação nesta área”, afirmou, recordando que, atualmente, 6 em cada 10 pessoas que morrem por doença encontram-se no hospital e os serviços de Medicina têm sempre muitos casos com necessidade de cuidados paliativos.
“Não estamos a reconhecer aos doentes o direito ao acesso a cuidados paliativos porque não temos, neste momento, capacidade de dar resposta às suas necessidades”, disse o internista, desenvolvendo que os doentes ficam nas enfermarias ou em ambulatório durante meses, à espera de uma vaga de cuidados paliativos, acabando por morrer sem aceder aos mesmos.
O presidente da SPMI felicitou o NEMPal, em particular a sua coordenadora, Elga Freire, pela organização do evento, frisando que os núcleos da SPMI são “a melhor expressão da força e da alma da Sociedade”.
Ao usar da palavra, Elga Freire fez questão de endereçar uma palavra de agradecimento a todos os que contribuíram para a realização do evento, em particular à SPMI, pela “confiança que depositou no Núcleo para a organização das Jornadas”.
A médica sublinhou também o papel do Núcleo de Internos de Medicina Interna (NIMI), que colaborou ativamente na organização da iniciativa, e o apoio da Fundação Dr. António Cupertino de Miranda, representada por Joana Moniz na mesa de abertura. Destacou ainda a sua colega Maria do Céu Rocha, que “muito contribuiu para a realização do evento desde o primeiro momento”.
Cuidados paliativos: A necessidade de responder «integralmente a todos os problemas»
Em representação do presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP), Conceição Pires, da Equipa Intra-Hospitalar de Suporte em Cuidados Paliativos (EIHSCP) do Centro Hospitalar de São João (CHSJ), salientou: “Temos neste momento uma população envelhecida, com grandes fragilidades, vulnerável e com carências socio-sanitárias importantes.”
E acrescentou: “O acompanhamento integral, com resposta global a estas necessidades dos doentes, respondendo integralmente a todos os problemas, quer sejam sintomas físicos, psicológicos ou emocionais, quer sejam necessidades sociais e espirituais, é a resposta que os cuidados paliativos têm de dar a estas necessidades.”
(22/09/2017)