Congresso do NEDVC chega à 18.ª edição e quer melhorar índices do AVC em Portugal
O Núcleo de Estudos da Doença Vascular Cerebral (NEDVC) reuniu-se este fim de semana no Porto para o seu 18.º Congresso. Com 570 inscrições e a presença diária de 452 clínicos, foram apresentados 140 trabalhos pelos vários centros a nível nacional.
Sobre o congresso deste ano, a coordenadora M. Teresa Cardoso diz que o encontro teve o mérito de “reunir a nível nacional todos os grupos dedicados ao AVC, possibilitando a discussão sobre o que há de novo, a troca de práticas clínicas e saberes”.
Entre os temas debatidos estiveram várias atualizações e controvérsias sobre temas como a extensão dos tempos de trombectomia, a intervenção nas estenoses intracranianas, o encerramento de forâmen oval patente, o AVC flutuante, novos antiagregantes e mesas redondas sobre hemorragia intracerebral e questões prementes em anticoagulação.
Quanto aos 18 anos deste congresso, M. Teresa Cardoso considera que os resultados que têm sido alcançados no campo do AVC têm uma íntima ligação com o trabalho desenvolvido pelo núcleo, mas frisou que há ainda muito trabalho a fazer no campo da reorganização dos cuidados de saúde no AVC, na área da prevenção e muito potencial de crescimento no volume de intervenção na fase aguda do AVC.
Medicina Interna deve ser o centro do sistema
Presente na sessão inaugural desta reunião, o bastonário da Ordem dos Médicos congratulou o NEDVC pelo trabalho desenvolvido e voltou a afirmar a convicção de que a Medicina Interna deve ocupar um papel central e dinamizador no seio do sistema de saúde.
“A Medicina Interna tem e deve ter um papel de liderança, congregando as várias especialidades neste campo de ação, pois é importante que se contribua para melhorar a vida das pessoas e se busque a melhor forma de as tratar”, afirmou Miguel Guimarães.
Jorge Almeida, diretor do serviço de Medicina Interna do Centro Hospitalar de São João, apelidou de excelente o trabalho desenvolvido sob a liderança de Teresa Cardoso. “Nunca tão poucos fizeram tanto por tantos”, disse referindo-se ao NEDVC.
Outra presença na sessão foi a do Professor Espiga de Macedo, como representante do Coordenador do Programa Nacional de Doenças Cardiovasculares, que aproveitou a ocasião para dar conta dos dados mais recentes do relatório anual do programa.
“A taxa de mortalidade relacionada com doenças cerebrocardiovasculares baixou pela primeira vez da barreira dos 30%. É um valor que procurávamos há muito tempo. É uma diminuição que se conseguiu mais à custa do AVC do que do enfarte do miocárdio, já que o AVC baixou nos últimos cinco anos 19,5%”, revelou o especialista, que deixou ainda elogios ao funcionamento da Via Verde.
João Xavier, presidente da Sociedade Portuguesa de Neuroradiologia, relembrou que a sua especialidade tem um papel importante no acompanhamento dos doentes com AVC e que com o aparecimento da trombectomia mecânica esse papel tornou-se central. Ainda assim, admitiu que é “um papel de fim de linha que convém evitar”.
O especialista frisou ainda que apesar de a janela terapêutica para trombectomia se estar a alargar, atuar precocemente continua a ser a via com maiores benefícios.
Já Gabriela Lopes, vice presidente da Sociedade Portuguesa de Neurologia, centrou a sua intervenção sobre a educação da população em saúde, relevando que “é importantíssima e tem sido um pouco descurada”.
A terminar, Elsa Azevedo, em representação da ARS Norte, congratulou todos os profissionais de saúde pelos últimos números conhecidos do AVC e reforçou que nesta fase é preciso insistir no reforço dos cuidados agudos.
“Queremos cada vez mais sobreviventes com menos sequelas, mas certamente haverá sempre lugar para a reabilitação. Prevenção, fase aguda e reabilitação são as três frentes onde é preciso atuar”, terminou.
A fechar a sessão, Maria Teresa Cardoso relembrou que apesar da melhoria a que se tem assistido nos últimos anos em torno dos números da mortalidade provocada pelo AVC, este continua a ser a primeira causa de morte e um problema grave de saúde pública.
“É tempo de nos focarmos na reorganização dos cuidados de saúde no AVC para aumentar o acesso das populações a novas estratégias terapêuticas de fase aguda atualmente disponíveis e com grandes implicações prognósticas.”
A coordenadora do NEDVC afirmou que continuam a existir assimetrias no acesso às unidades de AVC e ao tratamento, e que nem todos os doentes são admitidos através da Via Verde.
“Há hoje tratamentos específicos que certamente não estão indicados em todos os doentes, mas é muito importante que os que necessitam possam usufruir deles. É pois um grande desafio tornar as novas estratégias terapêuticas de fase aguda do AVC acessíveis à maioria da população”, concluiu.
(27/11/17)