Aleitamento materno: o melhor para os bebés

Inês Palma dos Reis
Coordenadora do Núcleo de Estudos de Medicina Obstétrica da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI)

A amamentação é a melhor forma de alimentar os bebés, sendo os benefícios mais óbvios para o bebé e a mãe, mas estendendo-se a toda a família e sociedade. É a forma mais antiga, natural e universal de alimentação dos pequenos humanos. É recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como a alimentação ideal para os bebés em todo o Mundo, em exclusivo até aos 6 meses e depois mantida com a introdução progressiva dos outros alimentos. A duração “ótima” é desconhecida, sendo recomendada pela OMS até aos 2 anos ou mais, reconhecendo-se benefícios enquanto a mãe e a criança a queiram manter.

Os benefícios para o bebé são geralmente o grande motivador das mães, vão desde a nutrição e hidratação ótimas e adequadas a cada fase de cada bebé, transmissão de imunidade, regulação térmica e conforto, estimulando o ideal desenvolvimento da boca, dentes e linguagem e ajudando a estabelecer a ligação com a mãe. Diminui o risco de morte-súbita. É especialmente importante em recém-nascidos e bebés prematuros. Há ainda benefícios para o bebé a longo prazo, diminuindo o risco de obesidade, diabetes e alguns tipos de cancro.

Os benefícios para a mãe começam no pós-parto imediato, diminuindo o risco de hemorragias graves, fortalecendo a ligação com o bebé, providenciando um momento de pausa nas outras atividades e ajudando na perda de peso. Diminui o risco de obesidade, diabetes, osteoporose e vários cancros (especialmente da mama) a longo prazo. Em Portugal as mães que amamentam e trabalhem podem solicitar ajuste e redução de horário à entidade patronal.

Toda a família beneficia com a amamentação, pelo seu menor custo e ótima segurança e conveniência. A amamentação reduz temporariamente a fertilidade materna, contribuindo para o espaçamento das gravidezes.

Os benefícios para a sociedade são em primeira análise o menor custo com a alimentação dos bebés, mas sobretudo com o tratamento das doenças evitadas (do bebé e da mãe), diminuição do absentismo da mãe (já que os bebés adoecem menos) e globalmente, beneficia também o ambiente, já que a amamentação é a opção mais ecológica.

Estes benefícios são ainda mais evidentes em locais ou momentos em que as alternativas desaparecem ou são menos seguras (catástrofes, saneamento inadequado, pobreza extrema). Durante a presente pandemia de COVID as recomendações internacionais têm sido veementes: as mães infetadas com COVID devem ser apoiadas a amamentar, mesmo se sintomáticas (sendo que a mãe doente deve usar máscara e medidas de higiene reforçadas), pois os benefícios da amamentação parecem superar largamente o risco de infeção dos bebés.

Então e os “malefícios”, as desvantagens – são raras as situações em que é recomendado não amamentar – geralmente por infeções ou fármacos (da mãe) que passem para o bebé e cujo risco supere os benefícios acima listados (devendo ser avaliados caso a caso por profissional de saúde qualificado e atualizado). A mãe pode optar por não amamentar para partilhar ou ceder a tarefa de alimentar o bebé. Infelizmente, muitas mães desistem de amamentar (ou limitam a duração da amamentação) por dificuldades no processo de amamentação (feridas, mastites), pressão laboral, da sociedade e mesmo de familiares.

Quais as alternativas – quando a mãe não pode ou não quer amamentar, pode recorrer a várias alternativas: a Organização Mundial de Saúde recomenda o leite humano (bancos de leite) como primeira alternativa, para recém-nascidos; as amas-de-leite como segunda alternativa, e só depois as fórmulas de “leite adaptado”. O leite de vaca “normal” (não adaptado a bebés), leite de outros animais e as bebidas vegetais não são recomendadas para os primeiros 12 meses de vida.

Independentemente das escolhas, as Mães deveriam ser mais apoiadas por todos, pois enquanto parte da sociedade, todos queremos e todos ganhamos com o que todas as Mães querem, o melhor para os Bebés.

Inês Palma dos Reis
Coordenadora do Núcleo de Estudos de Medicina Obstétrica da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI)

(03/08/2020)