A saúde global

A saúde de cada um é um bem precioso. Todos a queremos preservar, acima de qualquer outro desejo. Esse pensamento acompanha-nos sempre, na nossa vida diária ou quando sopramos as velas do bolo de aniversário.

A evolução espantosa da medicina prolongou-nos a vida para além do imaginável. Pudemos envelhecer, mesmo com múltiplas patologias, que conseguimos controlar. Convertemos doenças mortais em crónicas, com sobrevivência de vários anos. Cada vez mais, temos terapêuticas adaptadas à genética de cada indivíduo ou às características moleculares daquele subtipo de doença. Ficamos com a impressão de que num futuro próximo tudo é tratável. Será tudo uma questão de dinheiro.

Há teóricos a editar livros sobre a imortalidade. São habitualmente best-sellers, porque têm como público todos os que gostam de ficção, e os que acreditam nas reais conquistas da ciência. Mais uma vez, a imortalidade dependeria da capacidade económica de cada um. Quem pudesse iria substituindo os órgãos e outras peças, ao preço do mercado, até que pouco restasse do indivíduo inicial.

A pandemia da covid-19 veio colocar a saúde num plano global, em vez do individual em que por norma a colocamos. Cada um de nós precisa que o outro cumpra as normas, para que possamos sair deste pesadelo. Cada país só ultrapassa a crise se proteger os novos e os velhos, os pobres e os ricos. Os países ricos têm de ser solidários com os remediados, para que eles próprios sobrevivam.

A economia, já sabíamos, é global, mas a saúde, numa pandemia, também o é! Nenhum país se cura sozinho. É uma máxima que o Mundo, e em especial a Europa do Norte, não deveria esquecer. Isso e o facto agora bem comprovado que todos os países têm de contar com um sistema nacional de saúde público capaz de responder ao primeiro embate. Para isso, não pode ser cronicamente subfinanciado, e ter de viver sempre com os mínimos de material e de recursos humanos.

Artigo de Opinião de João Araújo Correia, Presidente da SPMI em Jornal de Notícias
(05/05/2020)