“A principal vantagem da Hospitalização Domiciliária é ser um projeto centrado no doente”
O 3.º Congresso Nacional de Hospitalização Domiciliária da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) irá decorrer nos dias 2 e 3 de junho de 2023, no Hotel Vila Galé, em Coimbra. Francisca Delerue, presidente da iniciativa e coordenadora do Núcleo de Estudos de Hospitalização Domiciliária (NEHospDom), revelou mais sobre a iniciativa, assinalando a importância de todas as unidades que atuam neste âmbito estarem presentes, de modo a aprimorar a qualidade e segurança dos cuidados de saúde prestados à população.
Vai realizar-se o 3.º Congresso de Hospitalização Domiciliária. Em que é que se vai diferenciar dos anteriores?
Francisca Delerue (FD) – Mais um congresso é sempre mais um momento de partilha de conhecimentos e só assim podemos evoluir. O que vai diferenciar este congresso são as novidades, as potencialidades que as Unidades de Hospitalização Domiciliária (UHDs) têm e que com a consolidação da fase de implementação nos vai permitir avançar para outros desafios, quer em termos de abrangências de cada vez mais doentes com diagnósticos mais variados, nomeadamente na área cirúrgica, bem como de monitorização e diferentes abordagens terapêuticas.
Quais os principais temas que irão estar em destaque?
FD – Os temas que vão estar em destaque são: regulamentação, financiamento, gestão de recursos humanos e evolução para Centros de Responsabilidade Integrada (CRI); análise de inquérito sobre a funcionalidade das UHDs; papel dos cuidadores informais, do serviço social e formação dos cuidadores; linhas gerais de orientação em Hospitalização Domiciliária (HD) de doentes com doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), Diabetes Mellitus, insuficiência cardíaca e anticoagulação; possíveis abordagens futuras em relação à telemonitorização, terapêutica transfusional e quimioterapia; avaliação da patologia mais frequente através de análise de inquérito realizado previamente; terapêutica antimicrobiana domiciliária endovenosa sempre atual e evolução para autoadministração; interdisciplinaridade com outros profissionais nomeadamente fisiatras, fisioterapeutas e nutricionistas; doentes cirúrgicos e desafios de referenciação, abordagem multidisciplinar, casuística e reflexão de uma UHD cirúrgica.
Quais os objetivos deste encontro?
FD – Os objetivos deste congresso é, mais uma vez, juntar os diferentes grupos profissionais de todas as UHDs para partilha de conhecimentos e da evolução da Hospitalização Domiciliária em Portugal.
Quais as suas expectativas?
FD – A minha expectativa é que realmente vão ser dois dias de trabalho intenso, em que as diferentes unidades podem enviar trabalhos para mostrarem resultados do que estão a fazer.
A quem se destina este congresso?
FD – Este Congresso destina-se a todos os profissionais que trabalham nas UHDs – médicos, enfermeiros, assistentes sociais, farmacêuticos, nutricionistas, fisioterapeutas e administradores.
Em que estado é que Portugal se encontra em termos de hospitalização domiciliária? O que ainda há a fazer?
FD – A HD tem tido uma excelente evolução em Portugal. Com início em 2015 no Hospital Garcia de Orta, é a partir do final de 2018, após reunião em que 25 hospitais assinam contratualização para abertura de UHDs, que realmente se assiste a um aumento progressivo no número de UHDs. No final de 2022 já existiam 37 unidades no SNS e duas privadas (uma da CUF e uma do Fernando Pessoa). Nesse ano foram tratados cerca de 9.000 doentes, mais 20% que em 2021, com uma demora média de 9,9 dias, com apenas 2% de óbitos espectáveis. Atualmente, podemos dizer que diariamente se encontram internados em HD cerca de 340 doentes, o que já corresponde a um hospital de média dimensão, temos assim com todas as UHDs um hospital sem paredes. Temos de evoluir. As UHDs têm de aumentar o número de doentes e referir à tutela o que é necessário para que isso aconteça. Temos de alargar o leque de patologias abordadas, nomeadamente na área cirúrgica com estabelecimento de protocolos. Temos de avançar com outras abordagens já realizadas noutros países, nomeadamente em Espanha, como a telemonitorização, as transfusões de sangue e a quimioterapia.
Quais as vantagens desta prática? E desvantagens?
FD – A principal vantagem da HD é ser um projeto centrado no doente, mais humanizado e com maior disponibilidade do doente e família para adquirirem conhecimentos sobre a sua doença, bem como da melhor abordagem terapêutica. Os ensinos feitos em casa são melhor apreendidos. Existe mais tempo de dedicação dos profissionais e de forma exclusiva. Outras vantagens são redução das infeções associadas aos cuidados de saúde, menor deterioração do estado funcional dos doentes, melhor articulação com os cuidados de saúde primários, ser uma resposta segura e eficaz, mais do que alternativa, e maior satisfação dos profissionais de saúde. As desvantagens incluem o contexto social e geográfico para a admissão, a ausência de apoio estatal à família ou cuidador, recursos humanos insuficientes, menor vigilância do doente e a deslocação do doente ao hospital para realização de alguns exames complementares de diagnóstico ou observação por especialidades.
Qual a importância de debater este tema nos dias de hoje?
FD – A HD é sem dúvida uma realidade em franca expansão em Portugal e é muito importante divulgar esta opção de internamento com as suas vantagens, para dar conhecimento à população e deixar de ser uma alternativa, mas sim a primeira opção de internamento sempre que haja critérios clínicos, sociais e geográficos. Os hospitais devem ficar reservados para os doentes mais graves e aqueles que não cumpram critérios para HD.
Que mensagem deixa a todos os participantes?
FD – A principal mensagem a transmitir é a importância de todas as UHDs estarem presentes, para debatermos o que se está a fazer em HD em Portugal e como podemos evoluir para melhorar a qualidade e segurança dos excelentes cuidados que estão a ser prestados em todas as UHDs e se poder abranger cada vez mais doentes.
Inscrições e submissão de abstracts Aqui
(10/04/2023)