A Medicina Interna e o Serviço de Urgência – Referendo às convicções das Direções da SPMI e Colégio de Especialidade
As Direções da SPMI e o Colégio de Especialidade da MI, atuais e passadas, sempre foram eleitas com programa de ação que defendia o papel central da MI no Serviço de Urgência, com a recusa da criação de uma Especialidade de Urgência. Esta posição baseia-se nas especificidades da realidade portuguesa, muito diferente da maioria dos países em que essa Especialidade existe.
Estão a decorrer reuniões entre vários Colégios de Especialidade, patrocinados pela Ordem dos Médicos, que discutem a necessidade ou não da criação de uma Especialidade de Medicina de Urgência. Apesar de estarmos legitimados pelos programas de ação que nos elegeram, as Direções da SPMI e do Colégio de Especialidade de MI quiseram ter a certeza de que aquilo que defendem corresponde ao sentimento da maioria dos Internistas. Por isso, elaboramos um questionário que referenda as nossas convicções, convertidas em 7 perguntas simples, com todas as opções possíveis.
Foi com muito agrado que constatamos o elevado nível de participação no inquérito, que decorreu entre 27-11 e 18-12-2020.
Houve respostas representativas de todas as ARS, repartindo-se igualmente pelas duas tipologias hospitalares (Hospital Central = 397/50% e Hospital Distrital =390/50%).
Estas afirmação, mereceu a concordância de cerca de 69% dos respondedores, sendo ainda mais notória essa maioria no Grupo dos Internos e Jovens Especialistas.
Nesta convicção que temos, somos seguidos por 64% dos respondedores, tendo opinião discordante apenas 24% dos colegas. O Grupo dos Internos e Jovens Especialistas está ainda mais convicto desta posição.
Em relação à necessidade da MI estar no SU para a garantia da qualidade do internamento, também se regista uma concordância de 64% dos inquiridos, ainda maior, de novo, entre os Internos e Jovens Especialistas.
Esta questão, acerca da importância da Urgência para a formação dos Internistas, obteve a concordância quase absoluta dos Internos e Especialistas, seja qual for a sua faixa etária.
A perceção de que a criação de uma Especialidade de Medicina de Urgência, levará a prazo ao afastamento dos Internistas do SU, merece a concordância de 48% dos inquiridos. No entanto, cerca de 39% acreditam que a MI se deverá manter no SU, mesmo se a Especialidade de Medicina de Urgência vier a ser criada. Esta é sem dúvida a questão em que as opiniões estão mais divididas.
Quando é perguntado se a saída da MI do SU é má para os Internistas, 59,8% afirmam que assim é, o que está de acordo com a importância que dão à Urgência para a sua própria formação.
Quando se pergunta se a saída da MI do SU é uma perda para a qualidade e segurança no atendimento dos doentes da realidade portuguesa, 62,3% concordam, o que ainda é mais notório no Grupo dos Internos e Jovens Especialistas.
Temos de agradecer a todos os associados da SPMI, o entusiasmo que demonstraram a este inquérito voluntário, traduzido numa significativa percentagem de participação (32%). Assumimos com toda a clareza que não se tratou de um inquérito sobre o papel da Medicina Interna na Urgência, mas sim um referendo às posições que os órgãos dirigentes da SPMI e do Colégio de Especialidade têm vindo a assumir, nos importantes fóruns de debate, que decorrem há vários anos, atualmente com uma premência maior. Os resultados obtidos, garantem-nos que podemos contar com uma maioria muito significativa dos Internistas, ainda mais dos Internos e dos Especialistas com menos de 10 anos de exercício, na defesa das nossas convicções, para uma Medicina Interna cada vez mais forte em Portugal, sempre na melhor defesa dos doentes e do SNS.
Por João Araújo Correia
(04/01/2021)