5.º Congresso Nacional da Urgência construiu caminho para reformular este serviço

Ao fazer o seu quinto aniversário, o Congresso Nacional da Urgência, promovido pelo Núcleo de Estudos de Urgência e do Doente Agudo (NEUrgMI) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), escolheu a cidade de Portimão, no Algarve, para reunir os cerca de 350 participantes nesta reunião, que explorou o tema “(Re)Pensar a Urgência nos 40 anos do SNS”.

Durante três dias, os internistas procuraram apontar algumas soluções para os problemas do Serviço de Urgência e, na sessão de abertura do evento, Faustino Ferreira, antigo Presidente da SPMI e Presidente deste Congresso, destacou várias reformas que são necessárias. Elogiou também o trabalho desenvolvido por Nuno Bernardino Vieira, Secretário-Geral do evento, realçando ser ele o “obreiro” desta realização.

“Os passos que temos dado têm ficado aquém do que gostaríamos que acontecesse. O tema da urgência nos 40 anos do SNS é extremamente oportuno, pois a Urgência é o ponto nevrálgico do nosso SNS, mas é também nele que são de imediato visíveis todas as disfunções”, considerou o internista, explicando que há processos que têm sido corrigidos, mas há ainda muito a fazer para colmatar as lacunas com que os Serviços de Urgência têm de lidar todos os dias.

“É na urgência que sentimos todas as dores do SNS porque é para lá que tudo converge: problemas clínicos e sociais. Os internistas têm sempre mostrado a sua capacidade de lidar com o caos que permanentemente ocorre nos nossos serviços, mas temos de mudar a abordagem ao problema da urgência: não podemos continuar a tratar apenas sintomas, mas sim desenvolver um esforço conjunto que envolva todas as dimensões, inclusivamente política”, concluiu.

Comissão organizadora do 5.º Congresso Nacional de Urgência

Maria da Luz Brazão, coordenadora do NEUrgMI, confessou-se “orgulhosa” pela quinta edição do congresso e frisou que surge num momento particularmente importante da Saúde em Portugal.

“Ver completar cinco edições deste congresso faz-me sentir muito orgulhosa, não só por estar presente, mas sobretudo por poder testemunhar o seu crescimento. É uma demonstração da nossa vitalidade, crescimento em qualidade e grande procura, assim como ilustra a vontade de nos atualizarmos tecnicamente e participarmos num tema da ordem do dia: a melhoria do SNS.”

João Araújo Correia, Presidente da SPMI, começou por destacar a opção por levar o Congresso Nacional de Urgência até Portimão, que considerou “uma questão de justiça” pelo trabalho e espírito empreendedor de Nuno Bernardino Vieira, o Secretário-Geral do encontro, que para além de “um fantástico Internista, ama profundamente a sua terra”. O Presidente da SPMI, definiu a Urgência como “uma porta sempre aberta para encontrar socorro” e que é nela que a população foi construindo a imagem de segurança e qualidade associada aos internistas.

“É o serviço onde nos encontram, muitas vezes exaustos, mas sempre disponíveis para aliviar a angústia do diagnóstico grave, às vezes escondido atrás de uma queixa trivial. É na urgência que os portugueses começaram a reconhecer o trabalho da Medicina Interna e a saber o que é a nossa especialidade”, afirmou João Araújo Correia.

Sobre as mudanças necessárias e que terão de ser implementadas nos próximos anos, o presidente da SPMI alertou para o perigo de seguir modelos de outros países, ressalvando a singularidade portuguesa – nomeadamente a população mais envelhecida e doente – e vincou a necessidade de subir o índice de financiamento para conseguir a evolução desejada.

“A mudança passa por vários fatores, entre os quais destacaria a criação de unidades de internamento, de centros de diagnostico rápido, postos de atendimento para azuis e verdes na triagem, avanços na área do internamento domiciliário, abertura dos SAP e adoção de mecanismos dissuasores de recurso indevido aos serviços de urgência hospitalar. Para isso”, concluiu, “além de financiamento, é preciso coragem política”.

A terminar, Paulo Morgado, presidente da ARS Algarve, também presente na sessão, declarou que pensar a urgência nos 40 anos no SNS é um tema de grande pertinência e para o qual todos devem contribuir.

“O SNS é uma conquista civilizacional da nossa democracia e que hoje necessita de ser reformulado e melhorado. Somos, de facto, os campeões da urgência e as estatísticas europeias provam-no bem, sendo o país cujos cidadãos ali recorrem com maior afluência. Criar medidas que reduzam a procura é uma tarefa na qual se tem trabalhado, mas nem sempre com a eficácia esperada”, desabafou, explicando que os portugueses se habituaram a ir ao serviço de urgência por uma questão de conveniência e que mudar esse paradigma “é o desafio dos próximos anos e da revolução que tem de ser levada a cabo”.

O V Congresso Nacional de Urgência decorreu até ao dia 13 de outubro, tendo sido discutidos muitos temas fundamentais para o exercício da Medicina Interna no contexto de Urgência, que mantendo a exigência do raciocínio clínico, associa a necessidade de o fazer de forma rápida e eficiente. Assim, o nível científico foi muito elevado, tendo havido oportunidade para que todos pudessem levar alguma coisa para a sua prática na urgência.

APAH e APMGF presentes para discutir estratégias com a SPMI

De realçar também uma mesa redonda muito importante, em que Rui Nogueira (Presidente da APMGF), Xavier Barreto (Direção da APAH) e João Araújo Correia (Presidente da SPMI), discutiram muitos problemas concretos, alguns com soluções possíveis, desde que haja vontade política para o fazer. Todos estiveram de acordo na necessidade de diminuir a procura do SU, dando alternativas às pessoas, facilitar o escoamento a jusante, com a resolução dos casos sociais e de tudo fazer para que a comunicação dos cuidados primários com o hospital seja mais fácil, em ambas as direções.

(14/10/2019)