4.º Congresso de Hospitalização Domiciliária: “É preciso formar, acompanhar e progredir”

Nos dias 28 e 29 de junho, Guimarães foi palco do 4.º Congresso Nacional de Hospitalização Domiciliária, organizado pelo Núcleo de Estudos de Hospitalização Domiciliária (NEHospDom) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI). O evento reuniu 240 profissionais para discutir os avanços e desafios na área. Recebeu, ainda, 88 trabalhos, dos quais seis foram premiados (três pósteres e três comunicações orais).

Francisca Delerue, coordenadora do NEHospDom, enfatizou a importância da iniciativa sumarizando o seu propósito. “O principal objetivo destes eventos é juntar os profissionais que trabalham na área, alguns com áreas de diferenciação, para se trocarem experiências e se conhecerem diferentes realidades, para que haja evolução e para que surjam novos desafios”.

“A uniformização e normalização dos cuidados prestados são uma preocupação. É preciso formar, acompanhar e progredir. O NEHospDom da SPMI surge com este objetivo e também como uma plataforma de facilitação à partilha de experiências e produção de ciência. Este núcleo tem realizado, anualmente, um congresso e um curso”, acrescentou a especialista.

Durante as sessões, foi discutido o aparecimento das Unidades Locais de Saúde (ULS), assim como os novos modelos de gestão como os Centros de Responsabilidade Integrada (CRI), a importância da insuficiência cardíaca enquanto patologia frequente nestes ambientes, a literacia em saúde, a disponibilidade do doente e família e o papel crescente da telemonitorização.

Foram, ainda, abordadas áreas de inovação como a realização de transfusões sanguíneas no domicílio e as equipas de acessos vasculares avançados, a integração dos cuidadores, o caso dos doentes paliativos e o tema dos profissionais e as suas funções em hospitalização domiciliária, destacando como evoluir para aumentar o número de doentes, que contou com a participação de Dr. Manuel Miron, de Espanha.

Além disso, a coordenadora do NEHospDom enfatizou o crescimento significativo da hospitalização domiciliária, o que reforça a importância de refletir sobre a temática. “A evolução da hospitalização domiciliária em Portugal tem sido excelente, mas agora considero que estamos num platô. Em 2023 foram tratados 10.037 doentes (mais 12,3% que no ano anterior), com capacidade diária para 352 doentes (aumento de 4,1%), com demora média de 9,7 dias, sendo retirados 97.513 dias de internamento dos hospitais convencionais. Podemos dizer que o nosso hospital ‘sem muros’ continua a crescer. Este ano abriram mais três unidades, nos hospitais Beatriz Ângelo, Cascais e Beja e três na privada, do grupo CUF”.

No entanto, a necessidade de reinventar continua a persistir: “O principal desafio é que todas as Unidades de Hospitalização Domiciliária que se encontram em funcionamento se tornem mais robustas e consigam cativar profissionais, para aumentar o número de doentes”.

Ao discutir o impacto positivo da hospitalização domiciliária, Francisca Delerue sublinhou a ligação com os casos clínicos apresentados. “Foram apresentados vários casos clínicos e o que fica bem visível em todos é uma equipa disponível, motivada, que vai prestar cuidados de nível hospitalar no domicílio do doente. A equipa fica cerca de 40 minutos no domicílio do doente, sem se dispersar e com toda a atenção só para aquele doente, sendo possível dar a conhecer ao doente e família/cuidador, a sua doença e o que deve fazer e como para a controlar. Existe muito mais disponibilidade para literacia em saúde. Havendo também disponibilidade para ensinos em várias áreas, incluído reabilitação e cinesiterapia respiratória, dado também haver muita patologia respiratória internada em hospitalização domiciliária. Aqui podemos realmente dizer que o doente está no centro dos cuidados.”

Quanto ao futuro da área, expressou otimismo, afirmando que se pode esperar um aumento do número de doentes; uma telemoniorização como mais valia para doentes mais complexos e melhor vigiados; novos modelos de organização, que partiram da evolução para CRIs; e a certificação das Unidades de Hospitalização Domiciliária, fruto do aumento da qualidade e segurança do trabalho realizado, onde se destacam as Unidades de Leiria e Aveiro, assim como as de Esposende e do Hospital Garcia de Orta, estas últimas duas ainda em processo de certificação.

Por fim, Francisca Delerue salientou a idoneidade formativa, “dado cada vez haver mais internos de formação específica de Medicina Interna, a solicitar a realização de estágios”, o que levou o NEHospDom a elaborar um programa de formação, onde as Unidades de Hospitalização Domiciliária com 10 ou mais doentes detêm potencial.

(09/07/2024)