Especialistas de MI reúnem-se para debater “diferentes formas de pensar” a doença de obesidade

8ª Reunião NEDM

Especialistas do NEDM e também do NEIC, NEDRESP e NEDF, e especialistas de endocrinologia, reuniram-se, na manhã deste sábado, 14, em Peniche para discutir diferentes formas de abordar o diagnóstico e tratamento da obesidade, em Portugal.

“Há causas pelas quais temos de dar as mãos e esta é uma delas. E a prova disso é estarmos no dia de hoje aqui reunidos. As nossas entidades ainda não reconhecem a obesidade como doença. Damos o nosso contributo, para já, com esta reunião temática”. Foi com esta mensagem que Estevão Pape, coordenador do NEDM e médico internista, diabetologista e diretor de serviço no Hospital Garcia de Orta, protagonizou o arranque da sessão de abertura da 8ª Reunião Temática do Núcleo de Estudos da Diabetes Mellitus, da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, que se realizou este sábado, dia 14, em Peniche.

A seu lado, médica especialista em Medicina Interna e Diabetes, no Centro Hospitalar do Oeste – Unidade de Caldas da Rainha, Joana Louro destacou que a presente reunião teve como objetivo “uma forma de aproximar a Medicina Interna à Obesidade”.

“É necessário fazer um caminho no reconhecimento da complexidade desta doença. A Medicina Interna, pela sua natureza, trata patologias crónica e doentes de elevada complexidade, não incluir doentes de obesidade é grave. Esta reunião é uma tentativa de aproximação e um tentar introduzir a obesidade na MI, que deve assumir o seu papel”, disse frisando que “todos somos poucos para tratar esta pandemia! Estamos a falar de uma doença de elevada complexidade e que exige união de todos os interesse de conhecimento dentro da MI”.

Por sua vez, convidado a intervir na sessão de abertura, que decorreu subordinada ao tema “Obesidade na Ordem do Dia”, José Silva Nunes, presidente da SPEO – Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade, sublinhou ser urgente uma mudança de paradigma quer na sociedade quer no seio da comunidade médica.

“A obesidade é ainda, infelizmente, não considerada uma doença pela sociedade em geral. Portugal foi um dos primeiros países em 2004 a reconhecer obesidade como doença, mas, ao fim, destes anos pouco passou do papel”, disse.

Com moderação a cargo de Manuela Ricciulli, o debate de ideias teve seguimento com uma discussão que teve como foco “O Impacto da Obesidade em Portugal”, tendo por base dois pontos de reflexão “Epidemiologia e fisiopatologia” (apresentação de Dr. Gustavo Rocha) e “As Armas Terapêuticas” (com apresentação de Drª. Mara Ventura).

“Estes doentes precisam e merecem uma abordagem holística. Não nos podemos ficar pela avaliação do IMC”, frisou Gustavo Rocha, do serviço de Endocrinologia do CHVNG/E.

Mara Ventura, do Serviço de Endocrinologia, Diabetes, e Metabolismo do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.

“Na abordagem da consulta uma das ideias que transmitimos é de que deve haver uma duração mínima de 25-240 minutos por semana, para perda de peso de 5 a 7.5 kg em seis meses”, explicou a especialista.

Tratando-se a obesidade de uma doença crónica, complexa, multifatorial é essencial uma abordagem de um diagnóstico e tratamento que deve ser multidisciplinar. Partindo deste pressuposto, a Prof. Doutora Joana Pimenta (NEIC), Dr. Pedro Leuschner (NEDRESP) e Dr. Paulo Carrola (NEDF) sentaram-se à mesma mesa para debater ideias, e novas abordagens no tratamento da doença, naquela que foi a sessão intitulada “A Obesidade na Complexidade da Medicina Interna – Juntos Somos Mais Fortes”.

“Não estamos a falar de perda de peso por questões de imagem. Estamos a falar de uma doença crónica. O primeiro passo é parar de dizer aos doentes: ‘Você só tem de comer menos!’. Estamos a falar de uma doença do presente e associada a enorme prevalência e comorbilidades que tratamos na Medicina Interna”, destacou Joana Louro.

“Tendemos a focarmo-nos na parte clínica, mas é necessária uma estrutura organizada para prestar os melhores cuidados clínicos”, considerou Joana Pimenta.

A fechar o encontro científico realizou-se a “Mesa Pharma”. Com moderação da Dra. Susana Heitor procedeu-se a uma discussão subordinada ao tema “Desafio, inspiração e excelência. O outro lado da Indústria farmacêutica?”.

“A MI tem de se organizar internamente e estabelecer pontes de contacto entre as diferentes áreas, assumindo a riqueza da nossa multidisciplinariedade.  Mas deve, acima de tudo, assumir um compromisso conjunto de intervenção pública e social”, concluiu Joana Louro.

60% da população portuguesa sofre de excesso de peso ou obesidade.

(15/05/2022)