A importância e o papel dos cuidados paliativos nos cuidados de saúde disponibilizados a doentes com Insuficiência Cardíaca (IC) encabeçaram um dos temas de destaque naquele que foi o terceiro dia do 27º Congresso Nacional de Medicina Interna, a decorrer em Vilamoura, Algarve.
Uma das intervenientes da mesa-redonda “Cuidados Paliativos”, Irene Marques, internista e coordenadora da Clínica multidisciplinar de Insuficiência Cardíaca (GEstIC) do Centro Hospitalar Universitário do Porto, proferiu uma reflexão sobre cuidados paliativos e insuficiência cardíaca durante a qual destacou que “a IC é uma patologia que cursa com elevada mortalidade e má qualidade de vida, piores do que as de alguns tipos de cancro”. Ainda no decorrer da sua intervenção, a especialista enfatizou que “a qualidade de vida e os cuidados paliativos (CP) são duas faces da mesma moeda, pelo que a sua valorização é diretamente proporcional nos cuidados aos doentes com IC; os CP devem ser iniciados cedo na trajetória da IC e intensificados à medida que a doença progride”.
Sob moderação de Bebiana Gonçalves e Filipa Malheiro, Irene Marques divulgou conclusões significativas. “Os sintomas e necessidades dos doentes com IC e dos seus cuidadores devem ser avaliados regularmente, idealmente através de escalas validadas para o efeito” e “os Cuidados Paliativos ao doente com IC começam com a equipa que trata do doente, idealmente multidisciplinar, e que deve integrar ou ter relações de colaboração estreita com profissionais especializados em CP”.
Por sua vez, Isabel Galriça Neto, protagonizou uma comunicação intitulada “A transição de cuidados curativos para os cuidados paliativos nos hospitais ditos de agudos”, durante a qual, falou sobre a necessidade de identificar “adequada e precocemente” os doentes com critérios para “seguimento em CP, para lhes poder prestar os cuidados de saúde de que necessitam”.
“Os grandes hospitais não podem estar de costas voltadas para o fim de vida”, sublinhou Isabel Neto, enquanto falava da trajetória de doença e fim de vida, com base num artigo científico.
No seu discurso Isabel Galriça Neto, que se dedica aos Cuidados Paliativos há mais de 25 anos, defendeu ser igualmente determinante “reforçar o trabalho estreito entre as equipas de CP e de medicina Interna”, um passo em frente que “só poderá ser feito com a formação adequada e correta, o que infelizmente ainda não é universal no nosso país”, apontou.
Para a coordenadora da Unidade de Cuidados Continuados e Paliativos do Hospital da Luz urge “incluir formação obrigatória para os médicos de Medicina Interna na área diferenciada de Medicina Paliativa e de integrar as práticas corretas no tratamento dos doentes paliativos e em fim de vida”.
“Com as mudanças demográficas e o aumento das doenças crónicas e da pluripatologia, cada vez temos mais doentes crónicos e em fim de vida, a necessitar de cuidados de saúde ajustados às suas necessidades. Não são nem doentes agudos, nem doentes que beneficiem de uma abordagem “modelo de ataque às doenças””, frisou a especialista.
“Ainda existe grande desconhecimento sobre aquilo que podemos fazer e que não é ajudar morrer! É sim ajudar a viver!”, destacou a responsável.
Isabel Neto lembrou a importância de não esquecer a componente económica no que respeita a esta matéria. “Mais de 60% de portugueses morrem em enfermarias, não só, mas também de medicina interna. E isso é um enorme desafio do ponto de vista dos custos”, disse.
Na opinião de Isabel Neto é urgente promover literacia no seio da sociedade portuguesa e, assim, pôr fim à ideia de que os cuidados paliativos são um “Atirar a toalha ao chão; o desistir do doente”.
Médica de medicina paliativa da rede Hospital da Luz desde 2008, Rita Abril completou o leque de intervenientes dando voz a uma intervenção sobre “Coordenação entre internamento/domicílio”.
“O planeamento de uma alta disciplinar é um processo que se quer dinâmico, multi e interdisciplinar”, proferiu, no arranque da sua comunicação, acrescentando que “a forma como vamos planear a alta deve ser pensada tendo em vista o doente, família, cuidadores (formais/informais)”.
O médico internista deve ouvir e validar as preferências do doente paliativo, por forma a que seja respeitado no seu “fim de vida e final de vida”, sublinhou Rita Abril.
“Quando devidamente preparada, a alta previne readmissões hospitalares, idas aos serviços de urgência, promove-se a redução dos custos em saúde”, salientou a especialista em Medicina Geral e Familiar e Medicina Paliativa.
O regresso do doente paliativo ao domicílio, a reconciliação terapêutica e a nota de alta foram outros dos assuntos que marcaram o decorrer da mesa-redonda na voz da médica internista Rita Abril.
(04/10/2021)