Inserido na mesa-redonda “A Formação no Internato de MI”, que se realizou no domingo, Paulo Oom, diretor do Departamento de Pediatria do Hospital Beatriz Ângelo, fez uma intervenção subordinada à temática “Os estágios em hospitais de nível diferente”, com os objetivos de alertar para a complexidade do internato médico e para a necessidade de assegurar a qualidade da formação dos internos.
“O internato deve oferecer uma grande diversidade de situações e cenários capazes de assegurar uma formação de qualidade. A avaliação durante o internato nos moldes como é feita atualmente está obsoleta e o papel do tutor tem de ser reinventado”, conclui Paulo Oom.
De seguida, Marco Fernandes, Internista do Centro Hospitalar de Entre o Douro e Vouga, falou sobre o tema “O logbook de tarefas on-line”. Com esta abordagem o orador pretendeu estimular a discussão sobre “a eventual implementação de um logbook na formação em Medicina Interna”, partindo de um exemplo concreto. “O propósito é refletir sobre o tipo de logbook, os seus objetivos, o seu impacto na formação e sobre os recursos necessários para o colocar em prática”, referiu.
De acordo com o orador, existe evidência suficiente na literatura para se poder afirmar que um novo conhecimento apreendido, não conduz necessariamente a um novo comportamento. “Neste contexto, a formação médica está a sofrer uma mudança de paradigma e é, cada vez, mais centrada na aplicação do conhecimento à prática clínica”, afirmou Marco Fernandes.
E terminou: “O logbook assume uma função fulcral nesta aquisição de competências pois, mais do que um elemento meramente avaliativo, é um instrumento que permite uma gestão ativa do processo de aprendizagem por parte do interno, possibilitando uma reflexão sobre os níveis de desempenho e uma orientação de todo o percurso formativo.”
Por sua vez, Pedro Cunha, internista do Hospital Senhora da Oliveira, em Guimarães, conduziu a apresentação “O orientador de formação é pai ou padrinho?”.
“Na sua raiz etimológica, as duas palavras têm um significado semelhante, é difícil de facto distingui-las. O pai é quem gera um ou mais filhos, é aquele que cria, é o protetor. Por outro lado, padrinho associa-se a uma figura defensora, protetor”, sublinhou o médico internista no arranque da sua comunicação oral.
Diante de uma sala cheia, o recém-eleito presidente do Colégio da Especialidade de Medicina Interna da Ordem dos Médicos fez uma leitura daquele que acredita ser o perfil e as competências de um orientador de formação de Medicina Interna.
“Deve ter uma visão integradora; ser promotor do raciocínio clínico; promover colegialidade, deontologia e comunicação; dotado de competências técnicas e autonomia. O orientador deve acumular continuamente competências clínicas e pedagógicas, e ter disponibilidade programada para o interno”, enumerou.
Quanto à questão central em análise, Pedro Cunha considerou que “há uma dupla dicotomia”.
“O pai é aquele que ajuda a criar um novo interno de formação específica, mas que também pode ter interferência paternal, que considero, ser prejudicial. Não o deixar ganhar progressivamente a sua autonomia”, justificou.
“Devemos sim ser preferencialmente patronos e mentores. Penso que estas são as palavras que assentam melhor num orientador de formação”, considerou o médico da unidade de saúde vimaranense, e também coordenador do Centro Académico e de Formação do Hospital Senhora da Oliveira.
(03/10/2021)