A sobrelotação nos serviços de urgência, uma realidade que continua a caraterizar o setor da saúde em Portugal, foi, esta segunda-feira, alvo de debate naquele que foi o terceiro dia do 27º Congresso Nacional de Medicina Interna, que está a decorrer no Centro de Congressos de Vilamoura, Algarve.
Orador convidado, António Martins Baptista, antigo presidente da SPMI, protagonizou uma intervenção sobre “soluções”.
O acesso aos serviços de urgências carece de melhoramento e reorganização “urgente e obrigatória”, começou por defender António Martins Baptista.
“É fundamental diminuir a afluência aos serviços de urgência porque os meios humanos não vão chegar nunca. Quando alguém diz que a solução para as urgências é a criação da especialidade de urgências, está a tapar o sol com a peneira, porque se não tirarmos de lá os doentes, não há nada que vá resolver o assunto!”, afiançou.
Evocando a reforma no setor da saúde levada a cabo em 2007, a qual conduziu ao fecho dos SAPS – unidades que até então, considerou, facilitavam o acesso dos portugueses aos cuidados de saúde, António Martins Baptista lamentou não ter sido materializada, até à data de hoje, “uma alternativa”.
“A verdade é que não há alternativa aos Serviços de Urgência. Os doentes deixaram de ter um sítio para ir quando tinham problemas de saúde ligeiros”, afirmou apontando que “costuma dizer-se que os doentes têm iliteracia em saúde e por isso é que vão às urgências, mas a verdade é que eles não têm outra solução!”.
De acordo com o antigo vice-presidente da SPMI, é “urgente abrir uma porta para situações que são urgentes, mas não são graves”. “Falo de problemas de saúde ligeiros, onde o doente possa, por exemplo, ir fazer um Raio x, um ECG, análises simples e isso deve ser no campo dos cuidados primários. E não tem de ser uma solução pensada para o período da noite porque, nessa altura, a afluência é pequena. Mas durante o dia tem que estar aberto”, disse. E justificou a sua visão: “Temos um país completamente sobrecarregado com a afluência às urgências. Temos uma taxa de afluência às urgências que é a maior da União Europeia e uma das maiores de todos os países desenvolvidos”.
Ressalvando que “não é só nos centros de saúde que tem de haver modificações”, mas também nos hospitais, enalteceu que “a porta de entrada dos doentes nos hospitais não deve, nem pode ser só a urgência”. “Tem de haver outras entradas alternativas no sistema de saúde hospitalar. E neste momento é a única porta. Quase todos os internamentos entram pela urgência, o que é um desastre!”.
Para António Martins Baptista também o seguimento do doente crónico deve ser repensado, com vista a aliviar a pressão e sobrelotação que se faz sentir nos serviços de urgência.
“Não faz nenhum sentido que um doente que tenha doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) ou insuficiência cardíaca tenha que, em situação de agravamento, entrar pela urgência”, considerou realçando que “este doente deveria ter acesso a uma unidade de saúde na qual pudesse ser observado por médicos especializados e que lhe ajustariam, caso necessário, a terapêutica evitando um possível internamento”.
“Apesar de todos os pedidos que temos feito nesse sentido ao longo dos anos, isso ainda não existe”, criticou.
Com moderação de Maria da Luz Brazão, e Alexandra Bayão Horta, Faustino Ferreira abordou as causas e consequências que estão na origem da sobrelotação destes serviços.
(04/10/2021)